Pare tudo e vá correndo assistir à nova aventura incrível que acaba de chegar na Netflix Divulgação / Netflix

Pare tudo e vá correndo assistir à nova aventura incrível que acaba de chegar na Netflix

Há algo de verdadeiramente mágico em certos filmes. No caso de “Sr. Carrinho e os Cavaleiros Templários”, a maneira como o polonês Antoni Nykowski dá novo fôlego a uma história de meio século é que confere a seu filme o impulso de que se aproveita muito bem, socorrendo-se dos chavões da produção original enquanto também empreende mudanças pontuais na condução da narrativa, que, descontados um e outro maneirismo, atravessou bem os anos e não permitiu-se descaracterizar pelos clamores da indústria. A adaptação do romance homônimo de Zbigniew Nienacki (1929-1994), por sua vez desmembrado em cinco capítulos levados ao ar em 1972, nutre o espírito nostálgico de espectadores hoje decerto bem menos fascinados com o mundo e crédulos em transformações de quaisquer ordens, mas não deixa de inspirar controvérsias vazias, a exemplo de uma listagem das diferenças entre o protótipo imaginado por Nienacki e o Fiat 125p, prata da casa, usado pelo diretor. Não é necessário se pensar muito para concluir que ajustes como esses são mero verniz, justamente para que se proteja a essência. A trama permanece impressionantemente conceitual, muito por causa do roteiro atento de Nykowski e Bartosz Sztybor.

O historiador de arte Tomasz Samochodzik procura tesouros por dever de ofício — e por ser também um sujeito muito vaidoso. Perseguido pela imprensa do mundo inteiro em foyers de museus e estradas de terra, repórteres ávidos por exclusivas, Samochodzik, um tipo cuja pretensão muda-se num carisma magnético graças à habilidade de Mateusz Janicki, na verdade parece não saber qual a finalidade das relíquias e tanto menos o objetivo de caçá-las por todo o globo, acostumado que está com esse estilo de vida — e, claro, seu narcisismo contribui sobremaneira para tal —, mas há quem se disponha a situá-lo em seu lugar devido. Se Samochodzik não entrega os pontos quando no encalço de algum indício que seu faro recomenda, Anka, a jornalista abelhuda e corajosa de Sandra Drzymalska, não fica atrás no quesito pertinácia, e o Indiana Jones do Leste Europeu é para ela a encarnação do próprio Santo Graal. O diretor elabora bem as obsessões de um e da outra, servindo-se desse gancho para colocá-los numa expedição inconsequente em busca da maior de todas as preciosidades, um tesouro da era das Cruzadas que pode ser o talismã capaz de causar um perigoso desequilíbrio entre as forças do bem e do mal.

Subtramas como a do menino órfão que se torna o escudeiro fiel do herói de Janicki, valorizadas pela fotografia de Kamil Plocki, sempre muitos tons abaixo do natural, mesmo nas externas em ambientes ensolarados, arrastam o filme para o terreno da crítica social ligeira, armadilha de que Nykowski desvencilha-se logo. “Sr. Carrinho e os Cavaleiros Templários” é uma saga sem muito compromisso com a justiça como se convencionou denominá-la, e o encerramento dá a entender que a sequência vai em frente, dessa mesma forma.


Filme: Sr. Carrinho e os Cavaleiros Templários
Direção: Antoni Nykowski
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Aventura
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.