Quarto filme da franquia imortalizada por Schwarzenegger chega à Netflix, com Christian Bale te fazendo arrepiar Divulgação / Columbia Pictures

Quarto filme da franquia imortalizada por Schwarzenegger chega à Netflix, com Christian Bale te fazendo arrepiar

Independentemente do que possamos querer, o tempo, senhor da razão e tudo quanto há de inexplicável no mundo, avança implacável, jamais espera, não para nunca, não admite ser desapontado e, caprichoso, tem suas próprias vontades e seus planos nada moderados para o homem. O tempo até pode ser o que fazemos deles, e esse é um tópico que suscita outros problemas, como os que “O Exterminador do Futuro — A Salvação” analisa do jeito conveniente a um filme assim. O passar dos anos pode trazer tanto gozo como desdita, e o mérito por um ou a culpa pela outra é do homem. Tempo pode ser dinheiro, e o dinheiro compra tudo, excetuando-se o mais importante. Em outras palavras, a vida corre de forma a lembrar-nos de que em toda curva da estrada mora um perigo, e desse gancho, McG se lança para tentar dar alguma resposta sensata a um problema fundamental da humanidade, mormente nessas primeiras quadras do século 21. Fazer o certo a despeito de possíveis recompensas, tomar as próprias responsabilidades e o próprio destino, e não terceirizá-lo a dispositivos que levaremos ainda bons tempos para conhecer é o melhor investimento que podemos fazer, para nós e os que virão depois, sob o risco de não sobrar nada, nem nós, nem ninguém, nem depois. Apenas um mundo frio como o metal que pisará nossas caveiras.

O predomínio do preto e branco e do sépia na fotografia de Shane Hurlbut tratam de esclarecer qualquer dúvida: o roteiro de John D. Brancato e Michael Ferris envereda por lances progressivamente melancólicos e absorve o possível da tristeza de um interno da Prisão Estadual de Longview. Em 2003, as execuções de detentos ainda cobrem o Texas de vergonha, mas Marcus Wright parece conformado e desfruta de um certo alívio diante do que o espera em pouco mais de uma hora. O personagem de Sam Worthington pensa que já recebeu da vida todas as segundas chances, e mesmo que a sorte acenasse-lhe com outra gentileza, ele não teria pejo em declinar. Serena Kogan, a médica de Helena Bonham Carter numa performance burocrática, começa a girar o eixo do filme em torno dessa figura enigmática, até a narrativa desaguar na explicação sobre a Resistência, uma divisão de Los Angeles encarregada de debelar motins de ciborgues, um tipo de ataque à ordem cada vez mais usual na América num futuro distópico e próximo, de gente sem esperança, faminta, doente, tentando conseguir antibióticos no mercado clandestino. John Connor, o messias apresentado por James Cameron no longa inaugural, de 1984, é um homem feito, e Edward Furlong, justiça se lhe faça, preparou o terreno para que Christian Bale levasse o personagem adiante com fidedignidade ao texto de Gale Anne Hurd, malgrado a balança penda a favor do intérprete de Connor de quatro décadas atrás. Os robôs anabolizados do filme de McG parecem temer muito mais o ex-condenado vivido por Worthington que o postulante a redentor do gênero humano de Bale, que acaba mesmo por sucumbir à força bruta da inteligência artificial. Wright, por seu turno, sabe que também nós humanos somos poderosos, mas que nosso vigor não vem do homem.


Filme: O Exterminador do Futuro — A Salvação
Direção: McG
Ano: 2009
Gêneros: Ação/Ficção científica
Nota: 8/10