“Django Livre” é um testemunho palpável do audacioso esplendor que o cineasta Quentin Tarantino parece cada vez mais inclinado a imprimir em suas obras. Desde a estreia do revolucionário “Cães de Aluguel” (1992), o diretor continuamente se desafia e transcende os limites do convencional, procurando sempre incorporar um elemento inédito ou uma reviravolta inesperada para deixar sua marca indelével e surpreender o público.
Neste longa, a trama traz à mente semelhanças marcantes com “Os Oito Odiados” (2015), especialmente ao apresentar uma reunião inusitada de personagens com nada em comum que são forçados a conviver. A história que se desenrola, porém, é particularmente tocante. No centro do enredo, encontramos um escravo, personificado pelo talentoso Jamie Foxx, cujo amargor acumulado de uma vida inteira de servidão explode em busca de uma nova história que sempre almejou. Esta perspectiva se torna a espinha dorsal da narrativa a partir da segunda metade do filme.
Foxx mergulha profundamente na psique de seu personagem, tornando o destino inesperado de Django não apenas crível, mas também emocionante e desejável para o público. A saga do escravo incita uma espécie de despertar no público, salpicando sal nas feridas ainda abertas da sociedade americana. Os temas do racismo, em particular, e da obsolescência da economia norte-americana durante a época da Guerra Civil (1861-1865) são abordados de maneira astuta, estabelecendo uma conexão indestrutível entre os dois.
O filme apresenta os escravos negros como o coração pulsante que mantém a economia em movimento; por outro lado, Tarantino denuncia a miopia do americano médio da época, que falha em perceber que trabalhadores livres poderiam ser uma fonte muito mais lucrativa para a economia. Esta análise é realizada no cenário criativo e alternativo proposto pelo diretor.
Em “Django Livre”, Tarantino continua a demonstrar seu dom para subverter as narrativas politicamente corretas mais banais, uma marca registrada que lhe rendeu fama e reconhecimento mundial. O filme não tem medo de mostrar que, em circunstâncias históricas, como no caso de Chica da Silva (1732-1796) no Brasil, houve negros que exploraram outros negros escravizados ou lucraram com a opressão desses indivíduos.
No final de mais uma poderosa lição tanto de cinema quanto de história, o espectador fica ansioso, repleto de expectativas e perguntando: quando será o próximo lançamento de Tarantino?
Filme: Django Livre
Direção: Quentin Tarantino
Ano: 2012
Gênero: Faroeste/Ação
Nota: 10/10