Indicado ao Oscar, um dos maiores thrillers investigativos de todos os tempos está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Indicado ao Oscar, um dos maiores thrillers investigativos de todos os tempos está na Netflix

Ovacionado pela crítica, “As Duas Faces de um Crime” não apenas marcou a estreia de Edward Norton em um filme, como já configurou sua primeira indicação ao Oscar como ator coadjuvante. Embora ele tivesse 26 anos à época, seu rosto de adolescente foi ideal para compor seu personagem, o coroinha Aaron Stampler, acusado de assassinar cruelmente um arcebispo de Chicago.

O filme de tribunal parece completamente solucionado logo em seus primeiros minutos, mas conforme acompanhamos os diálogos entre Aaron e seu advogado renomado e narcisista, Martin Vail (Richard Gere), e também com a psiquiatra que o acompanha durante o processo, Molly (Frances McDormand), as certezas vão se dissipando.

O mérito de toda essa confusão causada não apenas na mente do espectador, mas também de todo o tribunal é Edward Norton que, com sua atuação brilhante e sob a camada de Aaron, consegue manipular muito bem todas as emoções.

Norton, que não era conhecido e nem tinha influência qualquer sobre os processos de escolha do elenco, teve de disputar com outros 3.000 atores o papel de Aaron, entre eles, Matt Damon e Pedro Pascal. A escolha original do diretor do filme, Gregory Hoblit, era Leonardo DiCaprio, que teve a infelicidade de rejeitar o convite.

Bacharel em história pela Yale University, Norton era um jovem discreto de Maryland, que preferiu não comparecer às entrevistas coletivas de divulgação de “As Duas Faces de um Crime”. Em um bate-papo que concedeu exclusivamente à atriz Drew Barrymore, ele afirmou não gostar de falar sobre sua vida pessoal, porque quanto mais as pessoas sabem sobre um ator, menos acreditam em seus personagens.

E apesar do sucesso repentino e estrondoso de Norton após essa produção, ele manteve e mantém seu estilo de vida silencioso e discreto, a la Robert De Niro. Você dificilmente o verá em capas de revista de fofoca ou encontrará fotos de paparazzi no Google dele com namoradas (anteriores à sua esposa, Shauna Robertson).

O talento de Norton neste filme é, principalmente, manter todas as camadas de seu personagem críveis. Você acredita em tudo que ele fala e demonstra em todos os momentos, seja quando assume a personalidade de Roy, vingativo e estrategista, ou quando ainda é Aaron, o inocente coroinha, abusado sexualmente pelo arcebispo. Além disso, Norton deixou o filme mais intelectual com sua performance extremamente afiada e perspicaz.

O impacto que ele causou sobre Hollywood foi tão grande em 1996, que no meio das divulgações para “As Duas Faces de um Crime”, ele foi convidado para estrelar dois outros filmes, “Todos Dizem Eu Te Amo”, de Woody Allen, e “O Povo Contra Larry Flint”, de Milos Forman, que começaram a ser gravados ainda durante a campanha de lançamento do longa de Hoblit.

Embora Norton tenha chamado para si toda a atenção do filme, “As Duas Faces de um Crime” ainda é uma das produções do gênero tribunal mais surpreendentes e intrigantes de todos os tempos. O longa tem um roteiro que articula muitos detalhes e informações, crimes que vão se revelando ao longo das investigações e atuações fortes de outros atores de grandeza, com indicações e vitórias no Oscar, como Richard Gere, Laura Linney, Frances McDormand e Alfre Woodard.


Filme: As Duas Faces de um Crime
Direção: Gregory Hoblit
Ano: 1996
Gênero: Policial/Drama/Mistério
Nota: 10/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.