Denis Villeneuve começou sua carreira no cinema em 1998 com “32 de Agosto na Terra” e, por cerca de 12 anos, permaneceu fazendo longas e curtas-metragens canadenses pouco conhecidos. Até que “Incêndios”, lançado em 2011, foi seu divisor de águas. Um filme inteligente e que deixa os espectadores mais frios e incrédulos perplexos, a produção abriu as portas para que o diretor chegasse em Hollywood e se transformasse em um dos nomes mais proeminentes do cinema desta geração. Comparado a Christopher Nolan, Villeneuve traz obras intelectualmente desafiadoras e com fotografias belíssimas, que não aparecem na tela sem sentido, mas vêm para complementar a mensagem do realizador para o público.
Quando “A Chegada” estreou aos cinemas em 2016, dividiu opiniões. Verdade é que o longa-metragem é daquelas obras difíceis de ser digeridas. Ele é um drama misturado com ficção-científica, complexo, denso, cheio de mensagens enigmáticas e que não é todo mundo que consegue assimilar seu significado. E não é uma questão de inteligência, mas de emoção. Afinal, o cinema é feito para mexer com a emoção do público.
Embora tenha feito alguns filmes mais ao estilo hollywoodiano com “Os Suspeitos”, “O Homem Duplicado” e “Sicário: Terra de Ninguém”, essas produções não passaram sem que ele deixasse um tanto de sua politização e genialidade. Embora “A Chegada” aparentemente tenha o popular tema da chegada alienígena no Planeta Terra e a forma como o governo norte-americano lida com a situação um tanto quanto apocalíptica, o longa de Villeneuve frustra todas as expectativas dos espectadores fascinados por ação, explosões e humor a la “Independence Day”.
“A Chegada” é profundo demais e poético até. O filme não está preocupado em mostrar a vinda de alienígenas como algo destrutivo e final para a humanidade, mas como esses seres se conectam com sua protagonista, lhe dando um panorama de sua vida e ressignificação de suas dores. Inspirado no livro de Ted Chiang “História da sua Vida”, o roteiro foi adaptado por Eric Heisserer para os cinemas.
A crise global que afeta o mundo com a chegada de 12 naves espaciais, causando rebeliões e ataques populares em diversos locais é apenas um elemento de tensão de “A Chegada”. Também a união dos países que discutem como solucionar da maneira mais pacífica possível o contato com os extraterrestres. É tudo pano de fundo. Nada disso é o foco do filme.
O foco é Louise (Amy Adams) e sua capacidade de estabelecer contato do zero com seres que jamais viu em um idioma que nunca conheceu. Louise Banks é uma linguista que dá aulas em uma universidade e é procurada pelo governo americano para tentar traduzir o que os alienígenas estão tentando dizer. Outros linguistas foram testados, mas nenhum conseguiu avançar o bastante. Apesar da pressão que sofre, Louise é bastante didática em seus métodos e consegue explicar para seus superiores os passos que precisa dar para conseguir prosseguir com sua pesquisa. Ela tem como parceiro o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner), que a auxilia nas visitas aos seres de outro planeta e em seus estudos.
Aos poucos e de forma bastante lúdica, Louise consegue estabelecer algum tipo de comunicação com eles. Ela descobre que eles escrevem por meio de logogramas circulares, que se traduzem mais pelo seu significado do que pelo som. Com isso, eles conseguem se comunicar por gestos e escrita. Ao longo de sua missão, Louise tem visões de sua vida, que por muitas vezes são confundidas pelos espectadores como lembranças. Ela se vê ao lado de uma menininha, cuidando e nutrindo um amor incondicional e maternal. As visões a assombra e a deixa aérea a maior parte do tempo. Afinal, o que essas imagens mentais simbolizam para Louise? Nada e tudo. Elas tratam de conhecimento. Afinal, o quanto poderíamos aproveitar de nossas jornadas terrenas se soubéssemos, antecipadamente, tudo que irá acontecer?
“A Chegada” parece enigmático demais. Filosófico demais. E é. É uma reflexão sobre o que faríamos se já soubéssemos de todas as flores e dores de nosso caminho.
Filme: A Chegada
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2016
Gênero: Drama/Ficção-Científica
Nota: 10/10