Desde tempos imemoriais, a humanidade tem uma obsessão macabra: o fim do mundo. Como se desejássemos nos libertar das obrigações da existência, o homem, a espécie mais avançada da criação, dedica-se à destruição de forma vigorosa, sem intenção de reconstrução. O filme “Os 12 Macacos”, exemplifica claramente essa obsessão, retratando o apocalipse como um destino inevitável, apesar de dispormos de ferramentas para talvez reverter o caminho para a redenção. Esta produção de Terry Gilliam, com roteiros de David Webb Peoples e Janet Peoples, lançada quase trinta anos atrás, ainda ressoa com relevância.
Utilizando do cinismo da emblemática franquia “Monty Python”, uma marca registrada de sua carreira, Gilliam explora a indiferença e desdém com que encaramos questões urgentes. Seu humor irônico e por vezes repulsivo reflete um pessimismo que contrapõe a esperança ocasionalmente professada. Na abertura, um tanto enigmática, aprendemos que pacientes psiquiátricos do Hospital Municipal de Baltimore têm uma estranha obsessão com pragas globais, e isso fundamenta toda a trama do filme. Tais nuances, que caminham entre o real e o puramente fantasioso, oferecem oportunidades para as criativas sacadas do diretor, um declarado fã de enredos apocalípticos, já explorados em “Brazil – O Filme” (1985).
A narrativa, que retrata cinco bilhões de pessoas afetadas por um vírus mais mortal que o HIV — uma ameaça não tão nova em 1995, porém envolta em ignorância e preconceito —, oscila entre o cenário de morte lenta e dolorosa e a paranoia dos esquizofrênicos, representados por Cole (Bruce Willis). Seu encontro com Jeffrey Goines (Brad Pitt) desencadeia memórias que pontuam a narrativa, todas vinculadas à vida do protagonista após um grande trauma. A entrada em cena de Kathryn Railley (Madeleine Stowe), adiciona um elemento dramático que acentua o tumulto do enredo, com viagens no tempo e elefantes desfilando nas ruas. No entanto, uma subtrama sobre criaturas mais evoluídas que o homem vivendo em abrigos subterrâneos permanece subutilizada. Apesar disso, “Os 12 Macacos” retrata com maestria um futuro sem esperanças, oferecendo uma narrativa rica e cativante.
Filme: Os 12 Macacos
Diretor: Terry Gilliam
Ano: 1995
Gêneros: Ficção Científica/Drama/Suspense
Nota: 9/10