O cinema asiático sempre traz ideias bastante originais para os gêneros de horror, suspense e thriller, fornecendo enredos complexos, com bastante potencial dramático e reviravoltas que transformam completamente a narrativa. “O Mistério das Garotas Perdidas” é um desses filmes que vagueia por mistérios completamente novos, explora territórios sombrios impensados e termina em lugares bem diferentes de onde começou com bastante inteligência e destreza.
O enredo gira em torno de três personagens. Primeiro, a história começa em 1999, em uma aldeia na Coreia, onde uma mulher dá à luz a gêmeos. No entanto, uma das crianças nasce peluda, com garras e olhos sombrios. Ainda no útero, ela tentou devorar a irmã, dando-lhe uma mordida na perna. Todos acreditam que ela seja uma criatura demoníaca. A mãe morre uma semana após o parto e o pai tira a própria vida. Os avós são fanáticos religiosos, que comercializam cachorros. Eles decidem manter a criança demoníaca trancada em um canil, enquanto a alimentam diariamente com um mingau insosso. A menina aparentemente normal cresce com a marca da mordida da irmã na perna e uma aura um tanto quanto aérea, espacial. A família muda de vilarejo em vilarejo, enquanto rumores sobre assassinatos se espalham.
Anos mais tarde, o pastor Parks (Lee Jung-jae), dirigente do Instituto de Pesquisa Religiosa do Extremo Oriente, investiga e expõe cultos e religiões em troca de fama e dinheiro, mas também para proteger pessoas ingênuas contra falsos profetas. No fundo, ele é mais cético do que fiel. Quando uma série de assassinatos, que podem ou não estar conectados, são ligados a um grupo budista, ele decide especular.
Os caminhos da menina mordida pela gêmea demoníaca e Parks se cruzam com o de Jeong Na-han (Jeong Min Park), um jovem assassino que usa a fé para fazer os fins justificar os meios. Ou seja, o mal é feito para um bem maior.
Entre esses três personagens centrais, outros entram e saem de cena, trazendo densidade, complexidade e dinâmica para a história. O problema é que chega em um ponto em que o excesso de figuras na trama pode acabar confundindo os espectadores, além de atrapalhar os roteiristas, Kang Full e Jae-hyun Jang, a trazer maior profundidade para os personagens que realmente importam.
Este é o segundo longa-metragem dirigido por Jae-hyun Jang e, assim como seu primeiro, “Os sacerdotes”, o filme usa o mistério para questionar a fé e as ações duvidosas de líderes religiosos em nome desta crença. A afirmação, nestas produções de Jae-hyun Jang, é de que há algo obscuro na crença cega e que precisa ser questionado. Se você crê em algo, você não precisa, necessariamente, aceitar tudo que sua fé ou religião impõe. É preciso racionar independentemente, sem se deixar ser manipulado.
O longa coreano tem uma boa premissa, mas os excessos o fazem se perder em alguns momentos da trama. As atuações são boas e a direção é decente, mas falta estruturar melhor os personagens mais relevantes. A edição também poderia ter sido mais bem enxugada para retirar sobras de cenas. De qualquer forma, o filme é um bom exemplo de como o cinema asiático ainda supera criativamente, de modo geral, o resto do mundo no que diz respeito ao suspense e ao terror.
Filme: O Mistério das Garotas Perdidas
Direção: Jae-hyun Jang
Ano: 2019
Gênero: Policial/Terror/Mistério
Nota: 7/10