Ganhador do Oscar e considerado perfeito, filme com Anthony Hopkins acaba de estrear na Netflix Divulgação / Film4 / Allstar

Ganhador do Oscar e considerado perfeito, filme com Anthony Hopkins acaba de estrear na Netflix

Vencedor de duas estatuetas do Oscar 2021, de melhor roteiro adaptado e melhor ator para sir Anthony Hopkins, “Meu Pai” é uma das mais belas obras já produzidas na história do cinema. A sensibilidade do cineasta francês Florian Zeller ao retratar a demência de um idoso, cada detalhe da cenografia que ajuda a contar essa história de forma realista e respeitosa e as atuações de Hopkins, Olivia Colman e Rufus Sewell são extremamente devastadoras. Não há como sair a mesma pessoa após assistir este filme. Ele transcende.

O filme é uma adaptação de uma peça de teatro escrita pelo próprio Zeller, mas o roteiro para os cinemas ganhou reforço de Christopher Hampton. O espetáculo está em cartaz na Inglaterra há cerca de 10 anos e já passou por mais de 30 países. “Meu Pai” se tornou, principalmente após o filme, um sucesso absoluto e preenche todas as cadeiras. Mas é preciso exaltar a transformação desse roteiro para as telas, um dos trabalhos mais primorosos de edição que você vai testemunhar.

“Meu pai” traz sir Anthony Hopkins no papel de Anthony, um senhor de 80 e poucos anos, que sofre de demência. A ganhadora do Oscar de melhor atriz por “A Favorita”, Olivia Colman, interpreta Ann, filha do protagonista. O filme parte do ponto de vista de Anthony, que por sua própria condição de saúde não é um narrador confiável.

Até mesmo as histórias dos bastidores desta produção são interessantes, porque o diretor Florian Zeller conta que enquanto planejava adaptá-lo para as telas, sempre pensava em Anthony Hopkins para seu personagem central. Quando contou aos colegas da produtora, o diretor disse que todos riram incrédulos de que ele conseguiria o ator para o papel. Mas Zeller enviou o roteiro para Anthony por meio de seu agente, e, para sua surpresa, o ator aceitou se reunir com ele e com Hampton em um restaurante. Foi a realização de um sonho.

No filme, Anthony é um idoso que vive em seu apartamento em Londres com sua filha, Ann. Ela conta ao pai que está prestes a se mudar para Paris com o novo namorado. Em questão de minutos, o rosto dela se metamorfoseia em outro. Agora, há um estranho que diz ser marido de Ann na cena. O homem desconhecido está sentado na poltrona na sala e tem certeza de que o apartamento é dele. Anthony é tratado por ele como um inquilino indesejado. Um quadro que estava na parede desaparece. Duas cadeiras no corredor mudam a decoração do ambiente. Há toda uma coreografia da equipe de cenografia, alinhada com as câmeras e com os movimentos dos atores que fazem com que o apartamento e os rostos das pessoas estejam constantemente se transformando, e muito rápido, deixando o espectador atordoado, se perguntando o que está acontecendo.

O público, como Anthony, passa a ter dúvidas do que é real e do que não é. Com uma interpretação que flui muito fácil e que derruba todas as nossas estruturas emocionais, Anthony Hopkins como Anthony resmunga, se irrita facilmente, dança e faz charme para sua nova cuidadora, vive momentos de paranoia e pincela na tela diversas nuances de humor com a habilidade de um malabarista. E sabe o que mais? Hopkins nos faz enxergar nele pessoas familiares, com suas manias de pai e avô.

A atuação do veterano é chocante. Sua performance na tela nos deixa mais que emocionados, mas arrasados. Olivia Colman, que também é um grande talento, complementa essa obra-prima com suas aparições dramáticas. Os dois emitem uma sintonia muito forte.

O filme é completamente sobre empatia. Não apenas sobre se colocar no lugar de uma pessoa com demência, embora ele consiga com muito sucesso nos por nesta posição de vulnerabilidade e confusão mental. Mas também é sobre se colocar no lugar de um familiar de uma pessoa sob essas condições, como Ann, e se questionar: “Como eu lidaria com a pessoa que amo se ela tivesse demência?”. Anthony é desorientado, mas é a angústia de Ann que influencia os sentimentos, as expressões e as ações de todos os personagens.

Ao ser perguntado sobre como foi a experiência nesse filme, sir Anthony Hopkins respondeu que, apesar de ter realizado ótimos papeis nos últimos anos, esse foi o seu trabalho mais adorado, o ponto alto de sua carreira. Esta é, provavelmente, uma das melhores atuações do ator, senão a melhor de todos os tempos, desbancando seu Hannibal Lecter, de “Silêncio dos Inocentes”, que lhe rendeu o primeiro Oscar. Ao ser questionado como conseguiu encontrar a essência daquele personagem tão complexo e cheio de facetas, ele disse: “Foi fácil, porque cheguei naquela idade em que eu sinto o que Anthony sente: a melancolia”.


Filme: Meu Pai
Direção: Florian Zeller
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 10/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.