Novo suspense da Netflix vai te dar arrepios na espinha Renad Bhadur / Netflix

Novo suspense da Netflix vai te dar arrepios na espinha

Com uma execução um pouco aquém da premissa, “The Matchmaker” poderia ser um thriller brilhante, mas prefere vagar por lugares seguros. Mesmo assim, é uma obra interessante de assistir e analisar. O longa-metragem da Arábia Saudita tem direção e roteiro de Abdulmohsen Aldhabaan e tenta funcionar como uma crítica à cultura misógina do país ou como uma lição para os homens machistas de todo o mundo. Que qualquer forma, é um grande avanço que não podemos compreender sua dimensão, porque vivemos realidades completamente diferentes de Aldhabaan.

No começo do filme, temos uma introdução à história. Aliaa é uma mulher que sofre violência doméstica. Um dia, ela recebe a visita de uma entidade, que propõe queimar seu marido e fazê-lo ressuscitar como um zumbi. Tudo que ela disser a ele, o homem obedecerá. Após o procedimento bem-sucedido, Aliaa decide representar a entidade e ajudar outras mulheres que estejam passando por situação similar.

Feita a introdução, temos o enredo de “The Matchmaker”. Conhecemos Tarek, um profissional de TI, casado com Reem e com uma filha, chamada Reema. Ele passa longas horas de seu dia no escritório em que trabalha e tem pouco tempo livre com sua família. Na firma, ele conhece Salma, uma bela estagiária por quem desenvolve uma fixação. Um dia, ela se demite e deixa um convite de casamento para seu chefe. Tarek se apossa do papel e vai no lugar do homem.

Ele chega em um misterioso hotel no meio do deserto e recebe recomendações estranhas do recepcionista. Com o passar dos dias e das noites, ele tem visões e sonhos bizarros. Com medo, ele tenta, em vão, fugir. Logo ele se vê no meio de um culto macabro comandado por mulheres e não sabe se vai sobreviver.

A estética do filme é bonita e bem sugestiva. O hotel, embora luxuoso, fica em um lugar que não se sabe exatamente onde é. Parece impossível fugir a pé, afinal, não há nada por perto. Ao mesmo tempo, tudo possui uma atmosfera mística. O local pode ou não ser real. Talvez esteja neste mundo, mas talvez esteja em outro. Tarek não tem controle sobre nada. A ideia do cineasta é dar ao público uma revanche feminina. Mostrar que as mulheres, em um mundo ideal, podem assumir as rédeas e virar o jogo. Ao invés de serem elas a obedecer, são os homens que se transformam em máquinas sem cérebro, prontos para seguir suas ordens.

Diante disso, é preciso salientar que a Arábia Saudita é um dos países em que os direitos das mulheres são os mais limitados. A desigualdade de gênero é enorme, mesmo quando comparada com outras nações do Oriente Médio. Lá, todas as mulheres devem ter um guardião. Além disso, não há idade mínima para casamento, sendo comum que menininhas subam ao altar. Os papéis de gênero por ali também são muito bem impregnados na sociedade, inclusive entre as mulheres mais alfabetizadas, que acreditam que o conservadorismo é o centro da cultura muçulmana e precisa ser preservada.

Ainda, é relevante para analisar este filme, lembrar que as mulheres só tiveram o direito de dirigir automóveis no país em 2018 e participar da vida política em 2015. É tudo muito recente. Quando a gente lê algo do tipo, parece até que estamos falando da Idade Média, porque é uma cultura que parece surreal para nós nos dias de hoje, mas basta lembrar que, mesmo no Brasil, as mulheres só puderam dirigir  e votar em 1932.


Filme: The Matchmaker
Direção: Abdulmohsen Aldhabaan
Ano: 2023
Gênero: Suspense
Nota: 6/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.