A história mais polêmica do cinema na última década está na Netflix e você não assistiu Divulgação / California Filmes

A história mais polêmica do cinema na última década está na Netflix e você não assistiu

Do polêmico diretor dinamarquês Lars Von Trier, “Ninfomaníaca — Volume 1” teve sua versão reduzida e censurada para caber nos streamings. Isso, porque as cenas de nudez e sexo da versão original eram extremamente explícitas e reais, levando o filme a ser comparado com pornografia e a ser banido em alguns países. Na verdade, as cenas de sexo realmente foram encenadas por atores pornôs, que funcionaram como dublês para os artistas que interpretaram os verdadeiros papeis no filme.

A protagonista é Joe, interpretada pela filha de celebridades Charlotte Gainsbourg. Charlotte é filha do sedutor cantor e compositor francês Serge Gainsbourg com a modelo britânica Jane Birkin. A atriz é queridinha de Lars Von Trier e estrelou outras produções do cineasta que compõe a chamada “Trilogia da Depressão”, como “Melancolia” e “Anticristo”.

Stellan Skarsgård, que também já atuou em outras obras do diretor, é Seligman, um desconhecido intelectual e compassivo, que encontra Joe desacordada e ferida em um beco. Ele a leva para sua casa e ajuda a se recuperar. Acordada, ela começa contar sua história.

Joe diz ser ninfomaníaca e narra como seu interesse sexual foi despertado desde a infância. Ela também descreve como em sua adolescência se aventurou perigosamente com sua melhor amiga, B (Sophie Kennedy Clark) para seduzir homens em um trem em troca de uma sacola de doces.

Enquanto Joe conta com culpa sua história de impetuosidade sexual e insensibilidade emocional, Seligman, que é aficionado em livros de pesca, traça paradoxos entre a pescaria e as ações de Joe. Ela se martiriza por ter colocado seus desejos carnais acima dos sentimentos das pessoas, mas ele tenta fazê-la enxergar que seus pecados não são tão condenáveis e monstruosos quanto ela imagina.

Nos flashbacks de sua juventude, Joe conta como funda, com a amiga B, uma irmandade do prazer sexual feminino; como se apaixona por Jerome (Shia LaBeouf), o homem que anos antes havia tirado sua virgindade; como foi pivô de uma separação que destruiu um lar com três crianças; dentre outras coisas.

Em algumas das digressões entre ela e Seligman, Joe reflete sobre como o amor distorce as coisas e faz a pessoa se sentir humilhada por seus sentimentos. Enquanto pensa sobre como os episódios aparentemente traumáticos não a afetaram pessoalmente, Seligman divaga sobre as necessidades de um viciado e sobre como seu vício está acima de todas as coisas.

Por ilustrar tão explicitamente, e até vulgarmente, a história de Joe, Lars Von Trier foi acusado de machismo, misoginia e de brutalizar as mulheres. Mas a controvérsia faz parte da imagem do cineasta. Joe pode representar a liberdade sexual feminina, já que não segue as convenções sobre o comportamento que se espera das mulheres. Ao mesmo tempo, o filme a leva para um cenário de completa degradação física e espiritual, já que a protagonista perde o controle sobre suas ações e se torna escrava de seu vício.

A obra de Lars Von Trier, como toda arte, é provocativa e jamais irá satisfazer a todos os gostos. Ela serve justamente para indignar, enfurecer e fazer as pessoas racionalizarem, pensarem, esmiuçarem em suas mentes todas as explicações e razões. “Ninfomaníaca” pode não ser agradável, mas ainda é uma obra-de-arte.


Filme: Ninfomaníaca — Volume 1
Direção: Lars Von Trier
Ano: 2013
Gênero: Drama
Nota: 8/10