O filme da Netflix que todo mundo deveria assistir para acalmar o coração e deixar a alma mais leve Opper Stone / Netflix

O filme da Netflix que todo mundo deveria assistir para acalmar o coração e deixar a alma mais leve

Algumas perdas são cruéis demais. Não deveriam acontecer. Podem ocorrer durante a vida, mas não são naturais. Não deveriam ser. Perder um filho deveria ser um crime federal. O universo, os deuses ou qualquer outra coisa ou alguém que estivesse no controle deveria ser punido. “Um Ninho Para Dois” é um filme sobre o luto. Sobre um casal, Jack (Chris O’Dowd) e Lilly (Melissa McCarthy), que perdeu a filha, Katie, de morte súbita do lactente. Algo tão possível e tão assustador que provoca uma média anual de falecimento de 5 em cada 10 mil bebês no Brasil, segundo o MD Saúde.

Provavelmente a Síndrome da Morte Súbita do Lactente é o maior medo das mães de bebês. Sabe quando elas dizem que não conseguem dormir à noite, pois acordam a cada cinco minutos para ver se seus filhos estão respirando? É por isso. Não há uma explicação clara para o óbito abrupto do bebê enquanto dorme, mas a ciência sabe que alguns fatores favorecem.

No filme de Theodore Melfi, Jack e Lilly não sabem como confrontar o luto e seguir com suas vidas. Jack entra em depressão profunda e tenta tirar a própria vida. Então, ele se interna em uma clínica psiquiátrica para evitar sua própria casa, seu trabalho e a vida que tinha antes da tragédia que abalou seu lar. Já Lilly tenta reagir seguindo em frente, se dedicando ao trabalho e à jardinagem. Ela doa todos os objetos de Katie e tenta excluir os pensamentos sobre a filha de sua mente na tentativa de que isso apague sua dor.

Enquanto Katie tenta reconstruir o jardim de sua casa, uma metáfora de como ela tenta retomar a rotina e reencontrar a felicidade, cuidando de sua família ou do que restou dela, Jack se afunda em desespero e ressente à forma que a esposa tenta dar continuidade à sua vida. Para ele, seguir significa desistir de Katie. Em meio ao caos e ao desespero, eles precisam encontrar uma forma de se reconectar um com o outro e compreender como cada um atravessa sua própria jornada de tristeza e cura. Para Lilly, quem a ajudará a encontrar a empatia é um passarinho que começa a perturbá-la em seu jardim.

Os personagens possuem cores. A de Lilly é o dourado, simbolizando sua busca pela felicidade, como o caminho de pedras amarelas de Dorothy. Ela quer retornar para seu lar, como era antes de sua perda. Já Jack usa azul, que transmite emoções como tristeza, depressão e desespero. Em inglês, a palavra “blues” significa estar triste. Conforme ele traça sua caminhada, suas cores vão se modificando.

Em entrevista ao Screen Rant, Melfi contou que a escolha por O’Dowd e McCarthy se deu porque, além de seus grandes amigos, são artistas que transitam muito bem entre a comédia e o drama, que são as duas linhas que o filme segue, com momentos levemente cômicos e outros intensamente tristes. Gravado durante a pandemia de coronavírus, o diretor disse que o filme expressou bem aquele momento em que o mundo vivia, onde a tristeza era bastante real, mas também era necessário seguir em frente.

Além disso, os papeis no roteiro original eram invertidos. Lilly é quem sofreria de depressão, enquanto Jack seguiria em frente. Para Melfi isso não fazia o menor sentido, já que ele considera que as pessoas mais fortes e determinadas de sua vida são as mulheres. Ele contou que foi criado por uma mãe solo e que sua esposa e sua filha são as pessoas mais racionais e espertas que ele conhece. Por isso, ele decidiu entrar em contato com o roteirista, Matt Harris, para pedir que os personagens fossem trocados.

“Um Ninho Para Dois” é um drama bastante delicado e sentimental, mas adocicado com um pouco de ternura e humor. Vai te arrancar rios de lágrimas e te levar por uma imersão para dentro de si mesmo.


Filme: Um Ninho Para Dois
Direção: Theodore Melfi
Ano: 2021
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.