O suspense implacável da Netflix que vai te manter preso dentro dele Divulgação / Felt Films

O suspense implacável da Netflix que vai te manter preso dentro dele

Filmes como “Circle” e “O Poço” provocam muita comoção quando são lançados, não por sua grandiosidade, atuações espetaculares ou roteiros inigualáveis, mas porque nos colocam em uma posição de crítica e autocrítica. É o momento de olharmos para dentro de nós mesmos e pensarmos sobre qual tipo de pessoas somos e de olhar para nossa sociedade e refletir sobre quem temos nos tornado. É preciso ter sangue frio para não sair com vários arrependimentos, algumas dúvidas e medos. Não temos evoluído tanto quanto imaginamos. Pelo menos não no quesito humanidade.

“O Poço” é um filme espanhol de 2019, dirigido e escrito por Galder Gaztelu-Urrutia. “Circle” é estadunidense, da dupla Aaron Hann e Mario Miscione e lançado em 2015. Os dois não se parecem muito, mas seguem uma premissa bem similar. Nenhum dos dois explicam muito bem quem são as pessoas ou organização por trás do jogo macabro que reúne estranhos em um lugar misterioso, onde sobreviver faz parte de um jogo.

Se em “O Poço” tínhamos a prisão vertical, onde as pessoas eram colocadas em duplas e deveriam decidir como e quanto comer cada vez que a plataforma de comida descia, em um tempo máximo de dois minutos, em “Circle” temos um círculo onde 50 desconhecidos são colocados e devem julgar quem vai morrer até que só reste uma pessoa. Os dois filmes refletem sobre qual perfil de pessoa vence o jogo da vida, se as coisas funcionam pela lógica darwinista, onde o mais forte devora o mais fraco, ou se a humanidade se tornou, ao longo do tempo, mais racional e menos instintiva; Mais humana e menos bárbara.

Conforme o jogo vai se desenrolando e as pessoas têm de escolher as próximas vítimas, as personalidades vão se revelando para os outros participantes do jogo e, também, para o público. Os primeiros a morrer, claro, são os personagens menos beneficiados, afinal, não temos a chance de conhecê-los tão bem. Mas os que ficam mostram suas verdadeiras cores e faces. Alguns são pessoas dignas, outras nem tanto. No final da trama, descobrimos que há um jogador que encabeça e manipula os votos de todos e consegue se dar bem, mas será que ele ou ela sairá mesmo vitorioso dali? É tudo uma questão de perspectiva.

“The Circle” levou três anos para ser completamente planejado, organizado e pré-produzido. Já as gravações foram bastante práticas, já que todas as filmagens se passam em apenas um lugar. Foram necessários dez dias para captar todas as cenas. Inspirado em “12 Homens e uma Sentença”, os roteiristas queriam mostrar como revelamos nosso verdadeiro eu quando somos colocados em um beco sem saída.

O longa-metragem é bastante detalhista. Se você prestar atenção o bastante, pode prever algumas situações que vão acontecer, porque o filme está dando seus sinais e pistas. É preciso estar atento. Há detalhes nos diálogos, nos gestos e nas contradições dos personagens que vão mostrando quem está mentindo e quem está falando a verdade, quem é bom e quem é mau.

Você pode até não ficar muito satisfeito quando tudo acabar. Os filmes, assim como a vida, não são sempre justos. E essa também é uma reflexão que precisamos fazer quando os créditos sobem.


Filme: Circle
Direção: Aaron Hann e Mario Miscione
Ano: 2015
Gênero: Mistério/Terror
Nota: 7/10