7 filmes novos que valem (e justificam) a assinatura da Netflix em 2023 Scott Garfield / Netflix

7 filmes novos que valem (e justificam) a assinatura da Netflix em 2023

É uma empreitada inglória tentar compreender o que se passa no lado mais escuro de cada um. Podemos dispor de toda a ajuda que nos oferecer a sorte, mas uma vez que somos nós mesmos os senhores de nossas escolhas, nossos juízes e nossos próprios carrascos, cabe-nos somente a nós a última palavra e só nossas são a culpa ou a fortuna pelo destino que nos aguarda, ainda que as artes, a ciência, o pensamento filosófico ofereçam ao homem ferramentas afiadas quanto a arredondar as quinas mais incômodas e burilar a vida de forma a tolerá-la sem o brilho falso das vãs quimeras com que costumamos nos iludir. As luzes e sombras, reentrâncias e saliências, altos e baixos, toda a ambivalência que pode haver no espírito do homem liberta-nos da perdição que nunca deixa de espreitar a natureza humana, mas lança-nos também no limbo de realidades suspeitas que, eivada de fantasia a mais nefasta, nos conduz por entre tantos outros abismos, mais rasos e mais fundos, universo paralelo e mágico, santo e diabólico, onde se dão crimes de toda sorte, mocinhos e vilões trocam de roupa e de lugar sem nenhuma cerimônia, arrevesa-se a natureza das emoções e atira-se ao jogo o que deveria ser guardado e ficar para sempre, porto seguro para navegantes cansados dos mares procelosos da descrença de tudo.

A felicidade incompatível ao estar no mundo; a inadequação fundamental do gênero humano para com o meio que o cerca; os muitos perigos da vida ela mesma; os mecanismos de repressão e autocensura dos quais nunca prescindiremos; o sonho permeando a dureza do real; os limites e o empenho do homem comum em realizar as mudanças, óbvias ou profundas, de que considera digno; a tragédia à espreita nas curvas mais sinuosas da estrada; a linha tênue que aparta o caos do inferno: em todos os sete títulos que agrupamos na lista abaixo nota-se, de uma forma ou de outra, essa dicotomia invencível da alma humana. Queridinho de dez entre dez cinéfilos ao redor do mundo, o mexicano Alejandro González Iñarritu é um dos nomes que despontam na corrida maluca ao Oscar 2023 com “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”. Se El Negro brilha com a história de um jornalista exilado na própria vida, Rian Johnson reedita o estrondoso sucesso de “Entre Facas e Segredos” com “Glass Onion: Um Mistério Knives Out”, em que se aprofunda nos joguinhos, digamos, excêntricos de ricaços tão entediados quanto doidos. Acrescidos aos outros cinco, os dois longas gravitam como os momentos mais vitoriosos do cinema na Netflix em 2022 e permanecem no catálogo da plataforma mais amada do Brasil no 2023 que estreia. Observamos o critério de sempre, em ordem alfabética e do mais novo para o de lançamento mais atual. Um ano cheio de excelentes filmes para nós. Continue a nos prestigiar com o rigor da sua audiência.