O filme da Netflix que desperta emoções e reações extremas

O filme da Netflix que desperta emoções e reações extremas

Rani é uma mulher bonita, mestra em literatura e apaixonada por romances policiais, principalmente os do escritor fictício Dinesh Pandit. Aqui no Brasil, estaríamos falando de uma mulher bem-sucedida, mas na Índia, Rani é vista como fracassada por um simples motivo: ainda não se casou.

A mãe do engenheiro Rishu está procurando uma pretendente para ele e, após ouvir que Rani é uma mulher prendada e caseira, aceita que os dois se casem. Tímido e inexperiente, Rishu se paralisa diante da beleza e espontaneidade de Rani e não consegue criar um vínculo com a própria mulher.

No fundo, os dois se querem. Mas Rishu é muito tímido, enquanto Rani é orgulhosa demais para admitir. As reviravoltas começam a acontecer quando o primo de Rishu, Neel, chega para passar uns dias na casa da família. A aproximação de Rani e Neel é o que muda definitivamente o ingênuo Rishu.

Essa é a trama — sem spoilers — de “Beleza Avassaladora”, filme indiano, dirigido por Vinil Mathew e inspirado no conto “Lamb to the Slaughter”, de Roald Dahl’s. O nome em português não convence, porque, apesar da atriz Taapsee Pannu — que interpreta Rani — ser uma mulher muito bonita, o filme não gira em torno disso. E, embora esteja classificado como um “suspense sombrio”, pode ser dividido em três partes distintas.

Na primeira parte, a comédia se sobressai, principalmente pelos exageros da mãe de Rishu, uma senhorinha colérica que se assusta ao perceber que Rani não é a garota prendada e caseira que “venderam” e ela. O segundo momento é marcado pelo drama, pela dificuldade de conexão entre o casal; e o final realmente pode ser considerado sombrio, com cenas perturbadoras de tortura e mutilação.

Para condensar tanta coisa, é normal que o filme tenha mais de duas horas de duração. Mas não é monótono ou arrastado: a expectativa de saber o que levou o casal arranjado a um desfecho inesperado faz com que o tempo passe rápido. Eu dispensaria as músicas apaixonadas e animadas que compõem a maior parte da trilha sonora, mas seria pedir muito a um filme indiano, não?

Pode incomodar também a distância cultural. Os hábitos, trejeitos e tradições dos indianos nos parecem bem incomuns e até retrógrados. Mesmo sendo inteligente e esforçada, para ser aceita Rani precisa aprender a cozinhar os pratos que agradam à família do marido. Mas são os sentimentos comuns — paixão, raiva, inadequação, ciúmes — que fazem com que o espectador se identifique com os protagonistas. E nisso eles dão aula, pois o ponto alto do filme é a atuação de Vikrant Massey, que interpreta Rishu.

O trabalho do diretor também merece atenção: as cenas são dinâmicas e a fotografia é belíssima. A roteirista, Kanika Dhillon, consegue amarrar bem as partes do filme e prende o espectador com muitos plot twists, mas cria um final que parece inverídico. Não decepciona, mas também não convence. 

Dizem que “Beleza Avassaladora” poderia ser uma novela do SBT. Mas, em um país que é apaixonado pela “Usurpadora”, isso não é uma ofensa tão grave assim. Ou seja, se estiver com tempo livre, não será um desperdício acompanhar as reviravoltas do casal Rani e Rishu. Mas se quiser mesmo um bom suspense indiano na Netflix, comece com “O Tigre Branco” (2021).