“Tomb Raider: A Origem” parte de uma decisão clara: desmontar a aura quase mítica associada a Lara Croft e reconstruí-la como alguém ainda em formação. A narrativa acompanha Lara antes do sobrenome virar marca. Ela vive em Londres, recusa a herança do pai desaparecido e insiste numa rotina de sobrevivência prática, feita de trabalhos precários e resistência física. Alicia Vikander assume a personagem sem tentar dialogar com versões anteriores. Sua Lara não domina o espaço; reage a ele. A proposta é racional e coerente, mas desde o início fica evidente que o filme prefere explicar essa escolha a explorá-la dramaticamente. O ponto de partida é sólido, ainda que excessivamente funcional.
A jornada se define quando Lara aceita investigar o destino de Richard Croft, vivido por Dominic West. O conflito central não é apenas geográfico, mas ideológico: seguir o pai significa aceitar uma identidade que ela tentou negar. O roteiro estrutura essa passagem como rito de iniciação, deslocando Lara para uma ilha dominada por um grupo paramilitar em busca do túmulo de Himiko. A progressão, porém, é linear demais. Os desafios físicos não se traduzem em dilemas morais consistentes. Lara apanha, cai, insiste, mas raramente decide. A transformação existe, mas ocorre por acúmulo mecânico de obstáculos, não por tensão interna elaborada.
Espaço, ritmo e limitações
Ao concentrar quase toda a ação em um único território, o filme reduz sua própria escala. A ilha funciona como cenário fixo, não como força narrativa. A sensação de descoberta se dilui, e a trama entra num ritmo repetitivo. Mathias Vogel, interpretado por Walton Goggins, lidera a oposição de forma eficiente, porém previsível. Seu antagonismo se baseia na insistência, não na ameaça simbólica. Falta contraste entre o que Lara teme perder e o que ele deseja conquistar. A narrativa avança, mas sem variações suficientes para sustentar duas horas de duração.
Corpo, ação e concretude
O maior acerto está na fisicalidade. Alicia Vikander constrói Lara Croft como corpo em desgaste. As cenas de ação valorizam impacto, peso e consequência. O uso contido de efeitos digitais reforça essa abordagem. Lara erra, falha e sobrevive por adaptação, não por destreza infalível. Essa escolha aproxima o filme de um registro mais direto e menos ornamental. Daniel Wu, como Lu Ren, oferece apoio funcional, embora o personagem seja subaproveitado. Kristin Scott Thomas e Derek Jacobi surgem em participações pontuais, sem influência real no desenvolvimento do enredo.
Desfecho
“Tomb Raider: A Origem” cumpre o que promete em termos de reintrodução da personagem, mas evita riscos conceituais maiores. Não falha de modo evidente, tampouco surpreende. Trata-se de um ponto de partida correto, estruturado com lógica, que deixa a sensação de que o essencial foi preparado, mas ainda não utilizado.
★★★★★★★★★★






