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Golpe Duplo: comédia romântica com Will Smith e Margot Robbie na Netflix para aquecer para o Natal Divulgação / Warner Bros.

Golpe Duplo: comédia romântica com Will Smith e Margot Robbie na Netflix para aquecer para o Natal

A aposta central de “Golpe Duplo” não está na engenhosidade absoluta dos seus truques, mas na forma como o engano vira linguagem afetiva. O filme dirigido por Glenn Ficarra e John Requa constrói sua narrativa a partir da sedução, não apenas a romântica, mas a intelectual, aquela que faz o espectador aceitar o jogo mesmo quando percebe que as cartas estão marcadas. Não se trata de um suspense que exige atenção obsessiva aos detalhes, e sim de um exercício de manipulação elegante, consciente de suas limitações e confortável com elas.

Nicky Spurgeon, interpretado por Will Smith, é apresentado como um golpista veterano que entende menos de cofres e mais de pessoas. Seu método não depende de tecnologia sofisticada ou planos mirabolantes, mas da leitura precisa do comportamento alheio. É nesse terreno que ele encontra Jess Barrett, vivida por Margot Robbie, uma aspirante a vigarista que aprende rápido demais para permanecer apenas como aprendiz. O enredo acompanha essa relação profissional que logo se contamina por desejo, criando um conflito constante entre confiança e autopreservação. Cada golpe executado funciona também como teste de lealdade, o que mantém a narrativa em permanente estado de suspeita.

Romance como estrutura

Embora se apresente como um filme de trapaça, “Golpe Duplo” é, em essência, um romance disfarçado. A dinâmica entre Nicky e Jess ocupa mais espaço do que os esquemas em si, e isso redefine o ritmo da história. O interesse do roteiro não está em explicar cada passo do golpe, mas em observar como a intimidade interfere na eficiência do crime. Essa escolha enfraquece a tensão típica do gênero, mas reforça o tema central: quando o afeto entra em cena, a lógica do controle absoluto começa a falhar. O resultado é um filme menos preocupado em surpreender pelo plano e mais interessado em explorar o erro humano.

Will Smith sustenta Nicky com um carisma já conhecido, evitando excessos e apostando numa presença segura, quase calculada. Sua atuação reforça a ideia de um homem que nunca se permite perder o controle, mesmo quando tudo indica o contrário. Margot Robbie, por sua vez, confere ambiguidade a Jess, equilibrando vulnerabilidade e cálculo. Ainda que o roteiro ocasionalmente a empurre para o arquétipo da femme fatale, a atriz garante densidade suficiente para que a personagem não se reduza a função decorativa. O elenco de apoio, com nomes como Adrian Martinez e Rodrigo Santoro, contribui para dar fluidez ao universo do filme sem roubar o foco da dupla central.

Estilo acima do risco

Ambientado entre Nova Orleans e Buenos Aires, o filme prefere o brilho à aspereza. O crime surge como espetáculo social, cercado de luxo, apostas altas e uma sensação constante de conforto. Isso limita o impacto dramático, mas deixa claro o objetivo da narrativa: entreter com inteligência moderada, não desafiar convenções morais ou estruturais. “Golpe Duplo” entende que seu truque principal não é enganar o público, mas convencê-lo a aceitar que, às vezes, a elegância do movimento importa mais do que a profundidade do truque.

Filme: Golpe Duplo
Diretor: Glenn Ficarra e John Requa
Ano: 2015
Gênero: Comédia/Crime/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.