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Não dá para ficar sem assistir esse clássico antes do Natal: parada obrigatória na Netflix! Divulgação / Universal Pictures

Não dá para ficar sem assistir esse clássico antes do Natal: parada obrigatória na Netflix!

Antes de qualquer gesto de sabotagem, “O Grinch“ estabelece um conflito simples e reconhecível: uma comunidade inteira organizada em torno de um ritual festivo elevado à condição de dogma. Em Whoville, o Natal não é apenas uma celebração, mas um sistema moral. Quem não participa com entusiasmo é visto como anomalia. Isolado acima da cidade, vivendo numa caverna com o cachorro Max, o Grinch observa esse fervor com desprezo crescente. Seu plano de arruinar a data nasce menos de maldade gratuita e mais de uma rejeição consciente à lógica coletiva que o excluiu.

Conflito e ponto de vista

A decisão de narrar a história a partir do Grinch altera de forma decisiva o eixo dramático. Diferente da animação de 1966, em que ele funciona como obstáculo externo à felicidade alheia, aqui o personagem ganha passado, motivações e ressentimentos bem definidos. Interpretado por Jim Carrey, o Grinch é um sujeito moldado pela humilhação pública e pelo excesso de uma cidade que transforma alegria em obrigação. O espectador acompanha sua rotina solitária, seus mecanismos de defesa e, finalmente, a elaboração do plano que envolve invadir Whoville na noite de Natal para roubar presentes, enfeites e símbolos que sustentam aquela encenação coletiva.

A ampliação do material original impõe problemas claros de ritmo. Para sustentar um longa-metragem, o roteiro introduz situações paralelas, gags prolongadas e conflitos acessórios que nem sempre contribuem para o arco principal. A relação entre o Grinch e Martha May Whovier, vivida por Christine Baranski, exemplifica esse excesso: funciona como curiosidade narrativa, mas pouco acrescenta ao entendimento do personagem. Em vários momentos, a sucessão de episódios cômicos dilui a progressão dramática, tornando o percurso irregular e, por vezes, disperso.

Personagens e função dramática

Cindy Lou Who, interpretada por Taylor Momsen, cumpre papel central ao questionar a lógica dominante de Whoville. Sua curiosidade e desconforto diante do consumismo generalizado funcionam como contraponto ético à cidade e ponte emocional com o Grinch. Já os moradores de Whoville são retratados como massa homogênea, marcada por comportamento histérico e competitividade ornamental. Essa escolha não é sutil, mas coerente com a crítica social que o filme tenta formular ao associar celebração religiosa a consumo desenfreado.

Ron Howard aposta em cenários grandiosos e figurinos exagerados para materializar o universo de Dr. Seuss em escala industrial. O resultado impressiona pelo volume, mas raramente pela sugestão. Tudo é explicitado, ampliado, reiterado. Nesse ambiente, Jim Carrey sustenta o filme com entrega física extrema, combinando sarcasmo verbal, distorção corporal e timing cômico preciso. Seu desempenho concentra a energia narrativa e acaba expondo uma fragilidade estrutural: sem ele, o filme teria dificuldade em se manter coeso.

Sentido

Quando o plano do Grinch é executado e Whoville insiste em celebrar mesmo sem objetos, a mensagem se revela com clareza: o rito sobrevive à mercadoria. Ainda assim, o impacto emocional é menor do que poderia ser, justamente pelo excesso que antecede esse momento. “O Grinch“ não alcança a concisão nem a força simbólica da animação original, mas propõe uma leitura mais amarga da coletividade festiva. Ao deslocar o foco para o excluído, o filme sugere que, às vezes, o verdadeiro ruído não vem de quem odeia o Natal, mas de quem o transforma em espetáculo permanente.

Filme: O Grinch
Diretor: Ron Howard
Ano: 2000
Gênero: Comédia/Fantasia
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.