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Um dos filmes mais vistos do momento e o mais bonito do último ano: Hilary Swank vai te pegar pelo coração no Prime Video Divulgação / Lionsgate

Um dos filmes mais vistos do momento e o mais bonito do último ano: Hilary Swank vai te pegar pelo coração no Prime Video

A história abre numa Louisville de inverno ralo, onde salão de beleza e hospital parecem pertencer ao mesmo quarteirão moral. Em “Uma Vida de Esperança”, Hilary Swank faz Sharon Stevens, cabeleireira e coproprietária de um salão, eficiente e instável; Alan Ritchson interpreta Ed Schmitt, pai viúvo que tenta sustentar duas filhas; Nancy Travis, como Barbara, toma a cozinha e o portão, zelando pela família e pela ordem. Sob a direção de Jon Gunn, o conflito central nasce quando Sharon decide bancar, com ajuda da comunidade, o tratamento de uma criança e precisa convencer o pai a aceitar esse socorro.

Ao ler no jornal a situação de Michelle, Sharon escolhe não ficar só no impulso. Vai ao velório da mãe da menina, se apresenta sem ser chamada, oferece apoio como quem não aguenta voltar para casa com as mãos vazias. Ed, exausto e desconfiado, tenta manter a estranha do lado de fora: há pouco tempo, e vergonha demais para administrar. A recusa dele vira obstáculo palpável. Sem acesso às meninas, Sharon não dá rosto nem nome ao pedido, e a campanha corre o risco de virar generosidade sem destinatário.

O salão como linha de produção da caridade

No salão, a caridade vira expediente. Fila. Barulho de secador. Tesouras batendo. Uma folha na parede com horários e valores. Sharon decide montar uma maratona de cortes, pressiona colegas, convence clientes a pagar adiantado, pede que tragam amigos. O dinheiro aparece em notas amassadas e cheques de gente comum. O turno atravessa a meia-noite. E, quanto mais Sharon se oferece, mais ela se expõe.

Com a primeira arrecadação, Sharon cruza o corredor do hospital e encontra o tamanho da conta. Não é um número abstrato: pilhas, datas, códigos, cobranças por transfusões e internações. Barbara aceita Sharon à mesa, mas impõe regras; Ed resiste a abrir a vida financeira porque isso soa como admitir derrota. Sharon insiste, por vezes sem delicadeza, guiada por um cálculo direto: sem medir o buraco, nenhuma campanha dura. A família ganha um plano de sobrevivência, mas paga em privacidade e naquela sensação incômoda de invasão.

O procedimento avança em etapas que alteram o que cada um sabe. Sharon leva Ed a uma reunião e arranca, na conversa e na pressão, uma sequência de trabalhos para ele, serviços de telhado que prometem renda rápida. Ed aceita por necessidade, mas o corpo cobra e a casa sente. Enquanto ele sobe em escadas e junta horas, Sharon percorre comércio por comércio pedindo doações com uma insistência que tanto abre carteiras quanto fecha portas. O obstáculo começa a ter nome: o passado dela. Alguém lembra a bebida, alguém testa sua palavra, e a desconfiança vira tarifa em cada pedido.

O relógio do transplante e a rede em movimento

Quando a saúde de Michelle piora, a história encolhe. No hospital, um médico entrega o dado que muda tudo: a espera deixa de ser horizonte e vira contagem de semanas, e um órgão disponível exigirá deslocamento imediato. A decisão seguinte não tem poesia; tem logística. Sharon passa a procurar avião, piloto, pista, autorização. Ed, que vinha aceitando ajuda com os dentes cerrados, é empurrado a admitir dependência de uma rede. O risco muda de lugar: não é só pagar, é chegar a tempo. Cada ligação feita por Sharon acrescenta um passo num terreno que pode ceder.

Para ampliar a rede, Sharon decide levar o caso à televisão local, e o filme encosta exposição e dignidade sem procurar vilões fáceis. Ed expulsa a equipe da sala, porque sente a casa virar palco, e o gesto tem efeito imediato: a arrecadação perde alcance, Sharon perde uma ferramenta, e a tensão entre os dois desce para o nível pessoal. Gunn filma o confronto com som ambiente e pausas longas; a informação não está no grito, mas no silêncio que fica depois, quando os dois se encaram sem acordo.

A pressão volta e acerta Sharon onde ela é frágil. Ela tenta seguir, mas recai, aparece embriagada, erra o tom, esquece compromissos; as meninas notam antes de qualquer lição adulta. Ed decide expulsá-la da casa, porque precisa proteger as filhas e a própria calma, e Barbara não discute. O corte derruba o arranjo montado por Sharon e derruba também a ideia de que bastava boa vontade. Então, ou melhor, não era bem uma ideia: era uma muleta. Sem ela, o vazio cresce, e Sharon precisa escolher a própria sobriedade sem plateia.

Nevasca, pista fechada e corrida até Omaha

O inverno chega com a crueldade das horas. Uma nevasca fecha estradas, o aeroporto fecha, e o hospital avisa que surgiu um fígado compatível para Michelle, com poucas horas para que ela chegue a Omaha. Sharon retoma o comando e liga para quem pode abrir pista, para quem pode pilotar, para quem pode puxar cabos e empurrar carros. Ed desenha rotas por ruas bloqueadas, mede gasolina, mede medo, e a câmera prende o espectador em planos mais longos, com o vento ocupando as frestas do carro. Na sala, um riso nervoso atravessa a fileira quando o veículo patina; não é deboche, é susto. E, antes que qualquer resposta venha, o filme retorna ao corredor do hospital, onde decisões viram papel assinado e custam, em horas e em orgulho, antes de qualquer resposta.

Filme: Uma Vida de Esperança
Diretor: Jon Gunn
Ano: 2024
Gênero: Biografia/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★