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Se você quer desligar o cérebro e se divertir, esse filme na Netflix é a escolha perfeita pra hoje Divulgação / New Line Cinema

Se você quer desligar o cérebro e se divertir, esse filme na Netflix é a escolha perfeita pra hoje

Numa Filadélfia de corredores escolares barulhentos, o filme “Shazam!” acompanha Billy Batson, vivido por Asher Angel, e a versão adulta do herói, interpretada por Zachary Levi, enquanto Mark Strong encarna o doutor Thaddeus Sivana, sob a direção de David F. Sandberg. O conflito se arma quando Billy recebe poderes extraordinários e precisa decidir se vai usá-los para pertencer e buscar respostas sobre a própria origem, enquanto Sivana caça a mesma fonte para impor domínio.

Na primeira chegada ao lar adotivo, Billy toma uma decisão simples e teimosa: não ficar tempo suficiente para ser conhecido. Faz isso porque carrega a lembrança de uma separação e acredita que a mãe biológica ainda pode ser encontrada. O obstáculo é uma casa com regras e afeto servido em porções pequenas, além de uma assistente social que o devolve ao mesmo corredor burocrático sempre que ele tenta escapar. Ao fugir, ele troca segurança por velocidade e se aproxima do risco que dizia querer evitar.

O raio de Shazam e a exposição pública

Quando ganha um corpo de adulto e um raio que o transforma em poucos segundos, Billy escolhe experimentar o dom antes de entender o que ele cobra. Curiosidade, e uma sensação imediata de controle, empurram a decisão. O obstáculo é a falta de informação: ele não sabe alcance, limite, preço de cada façanha. Sandberg sublinha essa ignorância com cortes secos e um estalo elétrico repetido, reduzindo o intervalo entre impulso e consequência. A cada tentativa, o poder vira diversão, mas também deixa rastro.

Com Freddy Freeman, Billy encontra um aliado que tenta dar ordem ao improviso sem fazer da brincadeira um sermão. Freddy, que conhece os códigos do super-herói como quem decora mapas, insiste em estabelecer regras, metas e até um modo de ganhar dinheiro com o segredo, porque enxerga ali uma chance de ser notado. O obstáculo é a própria cidade: celulares levantados, colegas prontos para filmar, adultos que farejam anomalia. O efeito é a exposição crescente, que diminui o espaço de erro e encurrala Billy numa responsabilidade que ele ainda não consegue nomear.

Thaddeus Sivana e a disciplina do rancor

Enquanto Billy aprende por tentativa e erro, Sivana escolhe um caminho de disciplina feroz. Marcado por uma infância de portas fechadas, ele volta à promessa de uma força superior como reparação, e a motivação é simples, corrosiva: nunca mais aceitar ser descartado. O obstáculo é que o poder não se oferece de bom grado, e ele decide contorná-lo com recursos, violência e persistência. A frieza de laboratórios e salas de reunião, sob luz dura e silêncio calculado, faz a ambição dele soar como plano de carreira escrito a rancor.

Sandberg, vindo do terror, decide usar esse repertório como ameaça de canto, sem sufocar o humor que sustenta o filme. A fantasia entra em espaços comuns e, por isso, incomoda: um metrô, uma sala de estar, um corredor estreito. Ele mantém luz e som num registro cotidiano até o instante em que a agressão aparece, não exatamente para chocar, mas para lembrar que a normalidade se quebra fácil. Num balcão de lanchonete, um copo de refrigerante treme antes que alguém perceba o motivo. Isso pesa nas reações: a graça vem antes do perigo e, quando ele chega, não pede licença.

Quando a decisão custa e a casa muda

A partir daí, a história se organiza como uma sequência de etapas que Billy precisa atravessar sem ter sido treinado para isso. Ele decide esconder o segredo para evitar controle; decide exibi-lo para obter vantagem; decide recuar quando percebe que expôs outros. A motivação muda rápido, como muda a idade no corpo dele, e o obstáculo principal é o tempo que some: notícias correm, pistas se acumulam, Sivana encosta. O efeito é um encadeamento de escolhas cada vez mais caras, em que um gesto de vaidade vira ameaça concreta para terceiros.

Chega um ponto em que sair ou ficar pesa do mesmo jeito. Billy tenta proteger alguém e falha. Ele respira. Corre. Volta. Encara uma porta fechada. O vilão força outra. Freddy grita. Alguém se cala. O raio aparece e desaparece. A cidade observa sem entender. A hesitação dura pouco e custa muito, porque qualquer decisão ali reposiciona o risco imediato e o lugar de cada um ao redor.

Mais adiante, o filme desloca o centro do poder para uma pergunta doméstica: o que Billy faz com a ideia de família quando ela não vem pronta. Ele decide confiar nos irmãos adotivos e aceitar ajuda, ou melhor, aceitar que ajuda é uma forma de vínculo e que vínculo implica perder controle. Ele não diz isso, mas o rosto denuncia um cansaço antigo de correr sozinho. O obstáculo é duplo: a tentação de resolver tudo na força e a oferta do vilão, que vende segurança em troca de submissão. A consequência é uma mudança de regra, em que ser forte passa a significar dividir o risco.

Na reta final, sem revelar a saída do conflito, “Shazam!” deixa claro que a ameaça maior não é só o inimigo que se aproxima, mas o impulso de Billy de desaparecer quando algo dá errado. Ele toma uma decisão que muda o clima da casa e redefine alianças, com efeito imediato no modo como aqueles jovens se enxergam. As portas continuam abertas e perigosas, os corredores seguem longos, mas o raio já não serve apenas para chamar atenção. O silêncio depois dele aponta para uma escolha menos vistosa, e mais difícil.

Filme: Shazam!
Diretor: David F. Sandberg
Ano: 2019
Gênero: Ação/Aventura/Comédia/Fantasia
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★