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Filme apocalíptico coreano estreou hoje na Netflix e já aparece entre os melhores do ano Divulgação / Netflix

Filme apocalíptico coreano estreou hoje na Netflix e já aparece entre os melhores do ano

A ficção científica proporciona uma infinidade de modos de se pensar o mundo, os costumes, a vida, e… rejeitar o mundo, os costumes, a vida — pelo menos a vida como a entendemos sob muitos aspectos desde tenra idade. O mundo, um lugar cuja hostilidade persegue-nos sem descanso, fica cada vez mais perigoso, aonde quer que se esteja, depois de determinadas experiências, de certos passeios pelo que quase nunca se revela. Após a queda de um asteroide de grandes proporções na Antártida, chuvas torrenciais passam a ameaçar o destino da humanidade, e então os oito bilhões de terráqueos correm contra o tempo para escapar. Talvez restem apenas enclaves de gente desabrigada e faminta lutando para sobreviver num mundo encharcado e inóspito. O cinema se apropriou da ideia da continuidade difícil num planeta à deriva, e esse cenário apocalíptico é o eixo em torno do qual se move “A Grande Inundação”. Em seu sétimo longa, Kim Byung-woo recorre a um argumento radical num esforço de chamar a atenção do público para um tema que causa espécie, sem jamais prescindir do entretenimento. Uma marca do cinema sul-coreano deste século.

Gu An-na parece ter a vida perfeita. Na cena de abertura, An-na, uma cientista evoluindo rápido na carreira, dorme pesadamente, quando percebe que Ja-in, o filho de seis anos, está na cama com ela. Os dois trocam algumas palavras, ela pretende voltar a dormir

com o garoto, mas se dá conta de que está na hora de ir trabalhar. Ela se levanta ainda sonolenta, Ja-in a segue e pouco depois os dois têm a sensação de estar vivendo um pesadelo bastante real. A mãe suspeita que o menino tenha feito alguma traquinagem, como é a regra entre crianças dessa idade, e deixado a torneira aberta, mas ele garante que não. E é verdade, infelizmente. O chão da sala está alagado, mas a água vem de fora do apartamento. E entra pela janela, no terceiro andar.

Kim abusa da computação gráfica conduzida por Choi Min-ho a fim de mesmerizar o público, e o consegue. Em meio ao espetáculo visual, o diretor-roteirista acrescenta um elemento filosófico que tem ocupado boa parte das produções nesses dias. A certa altura, sabe-se que An-na quer criar uma inteligência artificial capaz de sentir e o filme toma uma direção surpreendente. Kim esclarece que a relação da protagonista com Ja-in é parte de um experimento nada comovente, voltado à dominação cultural pelo soft power. Se depender de Kim Da-mi e Kwon Eun-seong, a Coreia do Sul chegará lá.

Filme: A Grande Inundação
Diretor: Kim Byung-woo
Ano: 2025
Gênero: Drama/Ficção Científica
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.