Quando se pensa em Ethan Coen, vem à cabeça o nome de seu irmão, Joel, com quem estabeleceu uma das filmografias mais singulares do cinema contemporâneo. O humor corrosivo e o olhar desencantado sobre a condição humana está presente desde os primeiros trabalhos da dupla, a exemplo de “Gosto de Sangue” (1984) e “O Grande Lebowski” (1998) àqueles que marcam sua maturidade artística, como “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007) e “A Balada de Buster Scruggs” (2018), e os pequenos golpes e assassinatos brutais que desenrolam-se nessas histórias revelam o egocentrismo e a moral nebulosa de tipos sem aptidão para a vida em sociedade. Em “Garotas em Fuga”, Ethan, sem Joel e com a corroteirista (e esposa) Tricia Cooke, volta a exercitar sua veia mais independente, refletindo sobre o invencível absurdo da existência e o anseio por liberdade, encadeando diálogos plenos de ironia em cenas quase frenéticas.
A viagem de carro de duas amigas lésbicas até Tallahassee, capital da Flórida, é o ponto de partida para Coen abordar temas como empoderamento feminino, misoginia, a busca pelo prazer sexual e, claro, o gosto pela aventura na América dos anos Clinton, primando por viradas nonsense. Jamie é a mais atirada, e é ela quem convence Marian a acompanhá-la depois de acabar um romance confuso com a policial Sukie, de Beanie Feldstein. Jamie e Marian vão parando em bares lésbicos da moda, churrascarias e motéis de beira de estrada, e enquanto a primeira coleciona novas conquistas, esta sente-se cada vez mais só, porque não tem a mesma vocação para cafajeste de sua parceira.
Na transição do primeiro para o segundo ato, o roubo de um automóvel instiga as viajantes e, aos poucos, o diretor explica o que está pretendendo, ao incluir Curlie e Santos, os personagens de Bill Camp e Pedro Pascal. Margaret Qualley e Geraldine Viswanathan costuram essas subtramas com visível habilidade, mas a certa altura, tem-se a impressão de que Coen estourou o orçamento e fecha todos os arcos de uma vez aos 84 minutos, quando a narrativa demonstrava fôlego para, no mínimo, mais meia hora. As garotas fogem muito rápido, sem se despedir e no melhor da festa.
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