Discover
Pare de rolar a tela: acabou de chegar ao Prime Video a comédia romântica com Gwyneth Paltrow que você vai querer indicar depois Divulgação / Lionsgate

Pare de rolar a tela: acabou de chegar ao Prime Video a comédia romântica com Gwyneth Paltrow que você vai querer indicar depois

Em Nova York, sobriedade é contagem diária, e o telefone fica sempre perto. Em “Terapia do Sexo”, Stuart Blumberg reúne Mark Ruffalo, Gwyneth Paltrow e Tim Robbins no centro de uma cadeia de responsabilidades que não admite distração: Adam, há cinco anos sem recaídas, tenta iniciar um romance com Phoebe sem revelar que frequenta reuniões por dependência sexual, enquanto ainda se apoia no patrocinador Mike para manter a própria disciplina.

O grupo de doze passos e a responsabilidade compartilhada

A rotina do grupo de doze passos dá ao filme o seu chão mais firme. Ali, cada participante escolhe o que diz em voz alta e o que ainda tenta esconder, sempre sob a regra informal de pedir ajuda antes do impulso. Mike patrocina Adam; Adam, por sua vez, aceita patrocinar Neil, recém-chegado ao tratamento por obrigação judicial. Essa corrente de mentoria tem efeito imediato: quando um começa a mentir para si mesmo, alguém em volta paga, porque o programa cobra responsabilidade compartilhada.

Adam, Phoebe e o custo de esconder o histórico

Adam se agarra ao risco mais comum, e também o mais caro, de quem está em recuperação: tenta separar vida afetiva e tratamento, como se desse para administrar desejo em compartimentos. Ele quer o romance. Phoebe, marcada por um relacionamento anterior com um alcoólatra, decidiu que não vai se envolver com dependentes, e essa decisão vira obstáculo direto ao namoro. Em vez de encarar a barreira, Adam empurra a conversa para depois, e a relação avança sustentada por uma omissão que cresce a cada encontro.

O filme mostra como esse segredo exige manutenção diária. Uma resposta curta demais, um assunto desviado, um cuidado exagerado com horários: qualquer detalhe pode soar como sinal. Adam passa a vigiar o próprio rastro, não por cinismo, mas por medo de perder o que acabou de conquistar. O efeito é concreto. A intimidade, que deveria aliviar, vira teste permanente. Quando a relação pede transparência, o tratamento volta a bater na porta, e Adam precisa decidir se protege a imagem ou se protege a chance de ser visto como é.

Neil, Dede e Mike sob pressão constante

No outro extremo está Neil, interpretado por Josh Gad, um médico de pronto-socorro que chega ao grupo sem maturidade para aceitar limites. A motivação dele oscila entre vergonha e orgulho, e essa oscilação empurra escolhas ruins. Ele segue cruzando fronteiras com mulheres no trabalho, na rua, no metrô, e encontra obstáculos nada abstratos: advertências, punições, isolamento. Adam, ao cobrar tarefas e compromisso, tenta dar forma ao caos de Neil, mas também sente o peso de ser exemplo quando continua sob risco.

A aproximação de Neil com Dede, vivida por Alecia Moore, a cantora Pink, desloca a história para um terreno mais raro: a amizade que não serve de atalho para conquista. Neil busca alguém que o enxergue sem nojo. Dede precisa de apoio para não voltar a relações destrutivas. O obstáculo aparece no formato de expectativa, desejo e carência, forças que não pedem licença. O filme acerta quando mantém essa convivência na área instável do quase, onde um gesto de cuidado pode valer mais do que uma promessa.

Mike encarna a face menos simpática e mais necessária do programa. Casado e dono de pequeno negócio, ele fala pouco e exige muito, como se a severidade fosse o único jeito de manter o mundo em pé. Quando o filho retorna para casa tentando se recompor depois da dependência química, Mike precisa escolher entre acolher e controlar, e o obstáculo se chama orgulho. A tensão doméstica expõe um ponto central do filme: recuperação não é só evitar o impulso, é aprender a lidar com a necessidade de estar certo, de mandar, de punir, de vencer discussões dentro de casa.

Blumberg busca um equilíbrio de tom que não vem fácil. Há humor, e ele nasce do constrangimento e da autossabotagem, daquela piada que alguém solta para respirar no meio da vergonha. Ao mesmo tempo, o filme evita transformar os personagens em caricaturas, e isso depende do elenco. Ruffalo sustenta Adam num estado de alerta que não relaxa. Paltrow dá a Phoebe uma rigidez que protege e, ao mesmo tempo, fecha portas. Robbins faz de Mike um patrocinador que cobra sem pedir desculpas, lembrando que gentileza, às vezes, também vira desculpa.

O que amarra a narrativa é a insistência em causa e efeito: pedir ajuda muda o dia; não pedir muda a noite. E é aí que “Terapia do Sexo” se firma. Ele funciona quando não se recusa a tratar a recuperação como uma trajetória relativamente reta, feita de tarefas, marcos e repetição, mesmo sabendo que a vida tenta dobrar o percurso. Ao voltar sempre ao gesto simples de comparecer e falar, o filme encontra uma imagem discreta, mas suficiente, para sustentar suas histórias: uma cadeira ocupada de novo na roda do grupo.

Filme: Terapia do Sexo
Diretor: Stuart Blumberg
Ano: 2012
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★