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HBO Max: novo filme de Darren Aronofsky entrega uma montanha-russa intensa de ação e violência Divulgação / Columbia Pictures

HBO Max: novo filme de Darren Aronofsky entrega uma montanha-russa intensa de ação e violência

Darren Aronofsky tem orgulho de ser maldito. Poucos cineastas assumem com tamanha convicção essa pecha, como se chafurdasse mesmo na lama do mundo em busca de párias. Aronofsky, esse mago diabólico, continua a tirar de seus atores e de seu público o desencanto e a melancolia, apenas para refiná-los de tal forma que é impossível dizer que aquilo não seja uma obra de arte. Ele remexe com tocante delicadeza as vulnerabilidades e as imundícies do espírito humano, a exemplo do que se assiste em “Réquiem para um Sonho” (2000), “O Lutador” (2008), “Cisne Negro” (2010) ou “Mãe!” (2017), e sempre chega a um resultado diferente. Em “Ladrões”, o diretor continua a dar seus cavalos de pau, e proporciona um espetáculo sórdido, sempre com a melhor das intenções. O roteiro de Charlie Huston, baseado em seu romance de 2004, vira um devastador petardo de misérias, movimento e sangue nas mãos cada vez mais hábeis de Aronofsky, numa crônica vigorosa sobre as trapaças de um destino impiedoso e o que fazer para conquistar a sonhada redenção.

Hank Thompson já foi uma promessa do beisebol, mas hoje tem de se virar atrás do balcão de um pub no Lower East Side. Seu time, o San Francisco Giants, está a um passo de se classificar no mata-mata da Liga Principal e, de alguma maneira, sempre que o Giants vence, ele tende a acreditar que a vida não é tão ordinária. Aos poucos, Aronofsky vai explicando por que a vida de Hank mudou tanto e esse vaivém no tempo confere à trama uma cadência híbrida, como se o personagem de fato dependesse de suas memórias para não sucumbir de uma vez. Depois de uma longa madrugada de trabalho, Hank volta para o seu apartamento com a namorada, a paramédica Yvonne, de Zoë Kravitz, e minutos depois Russ, o vizinho punk interpretado por Matt Smith, pede-lhe que cuide de Bud, o gato dele, porque soube que seu pai teve um derrame e precisa ser assistido em Londres. É aí que começa o enrosco.

Não é preciso ser gênio para deduzir que Russ está metido em alguma atividade criminosa e não titubeou ao vislumbrar uma oportunidade de ver-se livre de complicações e deixar que Hank fosse tragado para o olho do furacão. O diretor recicla chavões, inventando uma reviravolta após a outra a partir de Bud, que fica todo o tempo com o bartender, fugindo com ele dos mais perigosos gângsteres da Nova York dos anos 1990. Dois deles, Lipa e Shmully Drucker, são judeus ortodoxos tão devotados à tradição quanto ao tráfico de drogas, e Liev Schreiber e Vincent D’Onofrio encarnam muito da insânia metódica do filme. Austin Butler transita de um para outro núcleo como se possuído, e Regina King primeiro enternece para mais tarde ser odiada na pele de Elise Roman, uma policial corrupta. “Ladrões” é Aronofsky na veia, ainda que menos cerebral e bem mais selvagem do que de hábito.

Filme: Ladrões 
Diretor: Darren Aronofsky
Ano: 2025
Gênero: Crime/Suspense
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.