“As Trapaceiras” é uma comédia dinâmica sobre um assunto velho como o mundo. Combustível para planos improvisados, a rivalidade entre duas golpistas que tentam enganar uma à outra dá azo a situações absurdas que desdobram-se com ritmo. Elaboradíssimas, essas artimanhas enredam também o público, que não sabe quem manipula quem. Chris Addison não faz exatamente uma sátira ao gênero, mas resta claro o propósito de criticar uma certa infantilização das mulheres, cenário de que as personagens-título fazem bom proveito. Engenhoso, o roteiro de Dale Launer e Jac Schaeffer volta a um clássico dos anos 1960, reciclado um quarto de século mais tarde, adaptando as piadas para duas atrizes jovens e corajosas, que dão ao material um frescor surpreendente. O básico bem feito.
“As Trapaceiras” é uma versão feminina de “Os Safados” (1988), dirigido por Frank Oz, quiçá o filme mais engraçado de todos os tempos, com Anne Hathaway e Rebel Wilson interpretando os personagens que foram de Steve Martin e Michael Caine — que por seu turno reviveram os tipos eternizados por Marlon Brando (1924-2004) e David Niven (1910-1983) em “Dois Farristas Irresistíveis” (1964), a cargo de Ralph Levy (1920-2001). Josephine Chesterfield, uma moça de fino trato é, na realidade, é uma vigarista com anos de experiência em golpes milionários, que só se concretizam por sua proximidade com policiais e investigadores de cassinos. Na sequência de abertura, ela surge num vestido de alta-costura bebericando um drinque quando é abordada por um aristocrata falido que parece querer aproveitar-se de sua aparente inocência. Minutos depois, ela está com a pulseira de brilhantes da esposa do infeliz. E some.
Josephine reaparece, sempre glamorosa, num trem a caminho de Beaumont-sur-Mer, sentada a uma mesa do vagão-restaurante no momento em que Penny Rust chega, uma mochila às costas e outra a tiracolo, e desaba junto a um cliente que espera sua refeição. Ela diz que gastou todo o dinheiro na passagem para ir salvar a irmã, vítima de uma rede de tráfico de pessoas, e por essa razão não pedirá nada mais que um copo d’água. O sujeito sente-lhe pena, se dispõe a pagar o que ela quiser, e Penny não se faz de rogada, pedindo comida para um batalhão. O encontro das duas, na cabine onde Josephine já está, é exatamente como se dá no filme de Oz, e da mesma forma a golpista mais tarimbada sugere que a outra vá não para a Riviera Francesa, mas Portofino, na Riviera Italiana, temendo a concorrência. Anne Hathaway e Rebel Wilson parecem seguir sua intuição, a fim de livrar a história da lamentável condição de pastiche, e até vislumbra-se aqui um quê de originalidade. Como se vê em “As Trapaceiras”, remakes de velhos sucessos nem sempre são obras-primas. Mas quem há de dizer que não constituem um ótimo passatempo?
★★★★★★★★★★




