“It: Capítulo 2” é um terror norte-americano de 2019, adaptação do livro de Stephen King, dirigido por Andy Muschietti e continuando a história apresentada no filme de 2017. A narrativa acompanha a versão adulta do Losers Club, que retorna a Derry após a reativação do ciclo de violência associado a Pennywise, interpretado por Bill Skarsgård. Chegou recentemente à Netflix, reacendendo discussões sobre a adaptação e sobre como a segunda metade da história dialoga com o material original. A volta à plataforma gerou interesse renovado, especialmente entre quem revisitou a primeira parte antes de reencontrar os personagens.
Assisti pela primeira vez assim que entrou na Netflix e me chamou atenção a tentativa de conciliar duas dimensões distintas: o amadurecimento dos protagonistas e a necessidade de concluir a jornada iniciada ainda na infância. Não é perfeito, mas há um esforço perceptível em estruturar a relação entre trauma e memória de modo mais enfático que no capítulo anterior.
A retomada de Derry e a lógica do retorno
A história se organiza quando Mike, vivido por Isaiah Mustafa, percebe sinais da volta de Pennywise e convoca Bill, interpretado por James McAvoy, Richie, vivido por Bill Hader, Beverly, por Jessica Chastain, Ben, por Jay Ryan, Eddie, interpretado por James Ransone, e Stanley, por Andy Bean. O reencontro revela que cada um tentou reorganizar a vida após sair de Derry, mas também que boa parte das lembranças permanece soterrada por um mecanismo defensivo que funcionou até o momento do chamado.
A partir desse ponto, o enredo assume que o retorno não é apenas geográfico. Ele reativa aquilo que foi construído não como nostalgia, mas como lacuna. Quando os personagens se veem diante do restaurante onde se reencontram pela primeira vez, há um choque inequívoco entre o que imaginaram que seriam e o que realmente se tornaram. Essa percepção guia a primeira metade da história e explica por que Pennywise consegue manipular cada um deles de forma tão calculada. O filme é claro ao demonstrar como a criatura explora não apenas medo, mas também a fragilidade emocional que acompanha a vida adulta.
O meio do filme e o problema da dispersão
A narrativa se alonga ao separar cada personagem em busca de objetos ligados ao passado. A intenção é retomar eventos anteriores e preencher lacunas, mas a repetição dilui o impacto dramático. As ameaças digitais que surgem nesses momentos perdem força pela previsibilidade do padrão: exposição breve, encontro com uma memória reprimida e ataque imediato. Isso reduz a tensão acumulada e prejudica a impressão de que o grupo funciona como unidade, justamente o que diferenciou a primeira parte.
Mesmo com esse problema estrutural, algumas sequências funcionam. A relação entre Richie e sua dificuldade em admitir conflitos pessoais ganha camadas relevantes. A trajetória de Bill ao enfrentar a culpa pela morte de Georgie, vivido por Jackson Robert Scott em flashbacks, mantém densidade emocional. Eddie é um ponto de equilíbrio entre racionalidade e pavor, e sua autopercepção se ajusta de maneira concreta ao final.
O confronto final e a tensão entre ambição e limite
A forma final de Pennywise, híbrida e irregular, tenta traduzir a criatura do romance, mas não alcança força simbólica suficiente. O embate final se sustenta mais pelo desgaste emocional acumulado do que pela construção visual. O desfecho envolve a resolução individual e coletiva das inseguranças, com destaque para a carta deixada por Stanley, que reorganiza a compreensão da amizade, embora suavize o impacto de sua morte.
O filme não resolve todos os pontos, mas encerra a trajetória do grupo com sentido claro. Essa combinação explica por que continua atraindo público: mesmo com falhas, ainda é uma adaptação que tenta dar acabamento a um ciclo narrativo difícil de traduzir para o cinema.
★★★★★★★★★★



