Era uma madrugada silenciosa do dia 9 de agosto de 1996, sobre as águas frias de Halifax, na costa atlântica do Canadá. O calor dos fresnéis nos sets de gravação e o cansaço das filmagens finalmente cederam espaço para uma janta tardia e aparentemente inocente: uma sopa de mariscos. Não era um banquete de luxo, mas um conforto modesto para aquela equipe que construía um sonho para as telas. A produção de “Titanic“, de James Cameron, jamais conseguiu identificar o responsável, mas alguém teria decidido batizar o caldo fumegante com PCP, também conhecido como pó de anjo: um alucinógeno que, embora quimicamente distinto, é frequentemente confundido com substâncias da mesma família de anestésicos dissociativos.
Minutos após a primeira colherada, um riso se quebrou em grito no ar, a lucidez desvaneceu, corpos cambalearam e olhos viam (ou pensavam ver) tudo e nada. Corredores se transformaram em labirintos dos quais muitos poderiam se perder. Gritos de pânico se misturavam a gargalhadas histéricas. Vultos corriam, outros caíam. Risos e lágrimas se derramavam juntos em um caos que parecia mais um pesadelo pintado por Salvador Dalí. Um dos profissionais, em completo delírio, tentou atacar Cameron com uma caneta. O diretor, ao lado do ator Bill Paxton, despencava febril e exausto, também envenenado pela sopa. Mais de 60 pessoas foram socorridas.
Investigação, suspeitas e silêncio oficial
A produção foi paralisada durante alguns dias. A polícia tomou conta do caso. A Vigilância Sanitária iniciou uma investigação. A toxina encontrada não era proveniente de nenhum marisco, nem mesmo uma intoxicação alimentar ou uma alergia generalizada. Era mesmo PCP, uma droga propositalmente inserida na receita por algum funcionário fantasma. O mistério jamais foi desvendado. Suspeitas teriam recaído sobre um funcionário recém-demitido ou sobre um cozinheiro. Talvez um ato de vingança contra a empresa responsável pelo buffet ou contra a própria equipe do filme. O inquérito durou anos, mas jamais levou a lugar nenhum. Em 1999, o caso foi arquivado.
Se nos cinemas, “Titanic“ falava de amor, nos bastidores a história era de medo, mistério e caos. A história é um lembrete de que, quando as luzes da ribalta se apagam, o que fica são as sombras das disputas e vaidades por trás das câmeras. E há algo de cruel nesse fato: falavam sobre um naufrágio e, por uma noite, naufragaram para dentro de si. O golpe invisível, como a ponta do iceberg que atingiu o Titanic, também estava escondido.
O eco de um caso sem fim
Passados 30 anos, o caso permanece como um sussurro em rumores, memórias, boatos e documentos cheios de lacunas. O mistério permanece afundado como uma âncora no mar. Até que ela seja finalmente removida, resta a dúvida.



