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Rir é o melhor remédio: comédia na Netflix que vai te fazer gargalhar sem parar por 110 minutos Divulgação / Columbia Pictures

Rir é o melhor remédio: comédia na Netflix que vai te fazer gargalhar sem parar por 110 minutos

Dois policiais que continuam parecendo estudantes do ensino médio são mandados, de novo, para se misturar a gente mais jovem e fingir que pertencem àquele mundo. Em “Anjos da Lei 2”, Schmidt e Jenko, vividos por Jonah Hill e Channing Tatum, sob a bronca permanente do capitão de Ice Cube, precisam descobrir quem abastece o campus universitário com uma nova droga enquanto a dupla tenta provar que ainda funciona como time. O conflito está em equilibrar a fantasia adolescente dessa infiltração com a necessidade real de amadurecer, sem que nenhum dos dois queira admitir quanto esse amadurecimento pesa. Phil Lord e Christopher Miller tratam essa repetição de missão como oportunidade para empurrar a amizade dos dois até o limite profissional e afetivo.

A dupla de diretores entende que está voltando ao mesmo ponto de partida e assume o risco de escancarar isso em cada piada. A sequência aposta justamente na ideia de que uma nova missão pode ser idêntica à anterior e, ao mesmo tempo, expor rachaduras que não apareciam no primeiro caso. A investigação no campus segue passos claros, da matrícula à festa, da festa ao dormitório, do dormitório ao corredor vazio, sempre com um detalhe ridículo deturpando o protocolo policial.

O filme vive da maneira como esses passos burocráticos da missão esbarram na imaturidade emocional de Schmidt e na vontade de Jenko de se sentir, de novo, o cara mais popular do lugar. A cada nova pista, um quer seguir o manual, o outro prefere seguir a música que está tocando no ginásio. Há uma sequência de decisões infantis vestidas de profissionalismo e é aí que a comédia se firma. A amizade precisa escolher entre a lealdade e uma espécie de liberdade adolescente tardia, ou melhor, entre a ideia de serem parceiros para sempre e a tentação de saber como seria a vida se cada um seguisse sozinho pelo próximo corredor.

Quando a ação entra em cena, o tom não muda de registro. Continua brincalhão. Continua absurdo. Mas a encenação é clara. Cada perseguição nasce de uma escolha equivocada, de um ego inflado ou de uma mentira contada rápido demais. Os diretores gostam de mostrar o corpo dos atores tropeçando, escorregando, batendo em móveis. Explosões viram piada física. Um tiro errado vira coreografia cômica. Na sala lotada, ouve-se risada antes do impacto visual.

A figura do capitão vivido por Ice Cube funciona como lembrete constante de que há um trabalho sério por trás daquela bagunça. Toda vez que ele aparece, é para cobrar resultado, cortar desculpa, lembrar que abaixo da piada existe um crime real. As reuniões na sala envidraçada têm sempre a mesma coreografia de berros e caras fechadas, mas ganham variação na forma como a dupla escolhe assumir ou desviar a culpa. Nessas discussões, o filme encontra o prazer do confronto verbal.

A parte policial segue uma linha simples, quase preguiçosa, e isso parece proposital. Primeiro, a dupla monta o plano clássico de infiltração estudantil. Depois, um imprevisto afetivo muda a distribuição de lealdades, o que complica o acesso às informações e rearranja quem confia em quem. A contramedida vem em forma de novas identidades, de novas mentiras, e cada disfarce extra aumenta o risco de alguém se machucar de verdade. Quando a investigação chega ao fornecedor principal, o perigo não é só ser desmascarado; é perceber que o modo como eles trabalharam até ali pode ter colocado inocentes bem no centro do fogo cruzado.

Em paralelo, o campus funciona quase como personagem, com suas fraternidades exibicionistas, seu campo de esportes e aquele corredor interminável que parece sempre levar a uma festa diferente. O espaço abre chances para piadas visuais, para encontros ao acaso, para pequenas humilhações que qualquer ex universitário reconhece de longe. Às vezes, o humor exagera na auto referência e na insistência em comentar a própria condição de sequência, mas a plateia responde bem ao jogo, especialmente quando a dupla se perde de vista e precisa se reencontrar correndo por aquele mesmo corredor abarrotado de cartazes coloridos.

Entre as comédias policiais recentes, “Anjos da Lei 2” prefere rir da mecânica de franquia ao invés de prometer reinvenção inspirada, o que o coloca mais perto de um episódio caro e muito bem ensaiado do que de um marco do gênero. Ainda assim, a combinação do humor físico de Jonah Hill com a presença atlética de Channing Tatum sustenta a maior parte das cenas, especialmente quando um segura a porta de um corredor para o outro passar atrasado, ofegante, ainda fazendo graça.

Filme: Anjos da Lei 2
Diretor: Phil Lord e Christopher Miller
Ano: 2014
Gênero: Ação/Aventura/Comédia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★