Tramas sobre a magia do Natal — e seus respectivos contratempos — pontuam o cinema por âmbitos os mais segmentados, de “Esqueceram de Mim” (1990), em que Chris Columbus narra as desventuras de um garoto forçado a sobreviver a bandidos sem a família, que passa as festas sem ele, a “O Grinch” (2000), de Ron Howard, no qual o espírito de porco de uma criatura ranzinza e vingativa se encarrega de dar cabo da celebração mais aguardada do ano. Despretensiosamente, “O Segredo do Papai Noel” passa a integrar essa lista, com uma história original, plena de ritmo, bem contada, sobre as emoções e anseios que teimam em vir à tona nessa época. Conhecido pela numerosa produção de longas com essa temática, Mike Rohl compõe o registro ensolarado de uma pequena tragédia sempre a um triz de ser realidade, mas que o destino trata de liquidar. Talvez levado pelo tal encanto natalino.
Se o coração tem razões que a própria razão ignora, o Natal faz reviver sentimentos que julgávamos terem se perdido sobre o gigantesco monte de neve que sempre resta no peito de cada um. Pais que criam filhos sem a mãe (e vice-versa, claro) sem dúvida padecem mais daquela solidão que testa almas demasiado livres, e é esse o caso de Taylor Jacobsen. Taylor foi a vocalista do Gatinhas Barulhentas, uma famosa girl band de vinte anos atrás, e agora leva o pão para casa trabalhando numa confeitaria. Dizer que está feliz é um exagero, mas, estoica, a moça não tem do que se queixar — ou não tinha. Surpreendentemente, no período em que as encomendas costumam aumentar, ela recebe o bilhete azul, e fica a um passo do desespero. Preciso, o roteiro de Ron Oliver e Carley Smale deslinda um rol de prováveis alternativas para Taylor, dificultadas pelo fato de sua filha, Zoey, querer matricular-se num curso de snowboard.
O elã dramático do enredo cede lugar a um humor sutil, materializado em sequências que priorizam os atores e a maneira como são postos os diálogos. Kenny, o irmão de Taylor vivido por Adam Beauchesne, fica sabendo que um certo Sun Peak’s Lodge oferece uma bolsa de 50% para funcionários que queiram frequentar as aulas de snowboard, e é para lá que ela vai. Mas há uma barreira entre realizar o sonho de sua filha, embolsar dois mil dólares por semana e recuperar a dignidade. A única vaga existente é a de Papai Noel, que deve ser contratado a toque de caixa, porque quem exercia a função demitiu-se sem prévio aviso, e embora esteja com pressa, a gerência não quer arriscar. Estranha um pouco constatar que nesses tempos tão modernos, nem se cogite a hipótese de Taylor ficar com o emprego; igualmente curiosa é a habilidade da mocinha para se disfarçar, e encarnar um senhor idoso em todas as suas aparições públicas. Feita essa ponderação, Alexandra Breckenridge se sai bem demais, a ponto de tornar supérfluo o romance de Taylor e Matthew, o filho do dono do Sun Peak’s interpretado por Ryan Eggold. Mais estimulantes são as interações de Breckenridge e Madison MacIsaac, que empresta a Zoey a aura caótica que o Natal tenta esconder.
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