Os 10 melhores filmes de Woody Allen

Prestes a estrear no Brasil o seu próximo filme “Blue Jasmine”, Woody Allen será homenageado por sua contribuição ao cinema na cerimônia da 71º edição do Globo de Ouro que acontecerá em Janeiro de 2014. Para relembrar um pouco de seus filmes e de sua carreira fiz uma seleção de 10 filmes que melhor sintetizam o seu estilo. Tarefa difícil, sobretudo pela quantidade de obras que o cineasta possui, cerca de 50 títulos. Sendo assim, convido a todos os leitores da Revista Bula para ver, e talvez rever alguns de seus melhores trabalhos. Segue na ordem de minha preferência:

1 — Manhattan — (Manhattan, 1979)

Woody Allen nos mostra de forma elegante e sofisticada alguns motivos que podem fazer a vida valer a pena. A cena em que Isaac está deitado no sofá gravado ideias para um conto e se depara com a questão “Por que vale a pena viver?” é uma das mais emblemáticas do cinema e nos convida a fazer uma reflexão sobre as nossas próprias escolhas. “Manhattan” também tem uma das melhores fotografias da obra de Woody Allen. Tudo isso contemplado com a música de George Gershwin ao fundo e filmado em preto e branco. Quanto a pergunta “Por que vale a pena viver?”, o personagem de Woody Allen também responde citando “Groucho Marx, Joe Di Maggio, o segundo movimento da sinfonia ‘Júpiter’, de Mozart, Louis Armstrong, ‘A Educação Sentimental’, de Flaubert, os filmes suecos, Marlon Brando, Frank Sinatra, as maçãs e peras pintadas por Cézanne, os caranguejos do restaurante Sam Wo e o rostinho de Tracy”. Reconheço que no conjunto o melhor filme de Woody Allen é “Crimes e Pecados”. Mas por todos esses motivos, o meu preferido é “Manhattan”.

2 — Crimes e Pecados — (Crimes and Misdemeanors, 1989)

“Nada escapa aos olhos de Deus”. Nem aos olhos de Woody Allen em seu modo minimalista de ver o mundo. Referência clara e direta a Dostoiévski, esse é um dos dramas mais sérios em sua filmografia. O longa promove discussões sobre adultério, crime, religião, moral e filosofia. É possível perceber essa carga dramática do filme, sobretudo, na cena final em que os personagens Judah (Martin Landau) e Cliff (Woody Allen) conversam sobre crime e castigo nos fundos da casa, durante uma festa.

3 — Noivo Neurótico, Noiva Nervosa — (Annie Hall, 1977)

Quando a Academia decidiu que Woody Allen era realmente um gênio. O longa, que recebeu uma tradução infeliz no Brasil, foi agraciado com o Oscar de melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original e melhor atriz coadjuvante, para Diane Keaton. Tomou de George Lucas a estatueta, concorrendo com “Guerra nas Estrelas”. A comédia romântica mostra o relacionamento de um comediante judeu (Alvy Singer) e uma cantora (Annie Hall). A cena em que aparece Marshall McLuhan na fila de ingressos para o cinema demonstra a síntese dos filmes de Woody Allen: humor e referências eruditas.

4 — Hannah e Suas Irmãs — (Hannah and Her Sisters, 1986)

Após a leitura de “Anna Kariênina”, de Tolstói, Woody Allen se inspirou e nos fez lembrar de “As Três Irmãs”, de Tchekhov. Em reuniões familiares para comemoração do dia de Ação de Graças vemos histórias de amor se cruzarem criando um painel de relacionamentos no qual as mulheres representam a força e o poder de dominar os homens. O filme ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante (Michael Caine), melhor atriz coadjuvante (Dianne Wiest) e melhor roteiro original. A cena em que Lee (Barbara Hershey) lê o poema de e.e. cummings indicado por Elliot (Michael Caine), que a presenteia com o livro do poeta americano, é simplesmente bela. “Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas…”

5 — A Rosa Púrpura do Cairo — (The purple Rose of Cairo, 1985)

Homenagem à sétima arte, “A Rosa Púrpura do Cairo” se concentra na personagem de Cecília (Mia Farrow) que busca refúgio quase todas as noites no cinema. Durante a Grande Depressão ela passa por conflitos em seu casamento e isso a faz “viajar” em uma ficção que em alguns momentos se mistura a sua vida real. Neste filme, o cinema serve como metáfora do próprio fazer fílmico. Woody Allen declarou que em sua filmografia este é um de seus trabalhos preferidos. Um dos melhores momentos é quando o personagem Tom Baxter (Jeff Daniels) sai do filme e entra na vida real e começa a perceber as diferenças e semelhanças que separam o mundo fictício e a realidade.

6 — Zelig — (Zelig, 1983)

Woody Allen conseguiu idealizar uma ideia brilhante e, ao mesmo tempo, harmonizar todos os seus pontos fortes como cineasta em um só filme. O falso documentário é uma comédia e ao mesmo tempo uma crítica ao modo de vida americano. O personagem Leonard Zelig (Woody Allen), o camaleão-humano que virou celebridade nos anos de 1920-1930, muda de características físicas e comportamentais em busca de sua verdadeira identidade. A história de Zelig talvez represente um pouco da experiência dos judeus na América. Filmado em preto e branco, o filme apresenta aspectos técnicos inovadores. Faz uso irreverente de imagens de arquivo e efeitos especiais. Tudo isso ganha um “ar” de seriedade com os depoimentos de alguns de seus amigos pessoais, como a ensaísta Susan Sontag, o escritor Saul Bellow e o historiador John Morton Blum. O filme é repleto de momentos engraçados e inteligentes. Talvez um dos melhores instantes do filme é quando Leonard Zelig pede desculpas ao público pelos transtornos que causou ao adotar outras personalidades: “Quero me desculpar com todos. Sinto muito por ter me casado com todas essas mulheres”.

7 — A Era do Rádio — (Radio Days, 1987)

Um dos filmes mais biográficos de Woody Allen. Ele admite que boa parte do que é mostrado no longa fez parte de sua vida, principalmente na infância, onde viveu numa casa com muitos familiares: pai, mãe, avós, tias e tios. A produção é marcada por várias histórias que são vivenciadas no decorrer do período áureo do rádio nos Estados Unidos — entre 1930 e 1940. Muita música e cenas engraçadas de uma família judia de Nova York que passa horas a fio escutando rádio e ao mesmo tempo procurando se manterem informados, principalmente sobre os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. A cena mais marcante é quando em meio a uma tempestade a tia Ceil (Renée Lippin) é abandonada sozinha pelo pretendente após ouvir no rádio dentro do carro a adaptação de “A Guerra dos Mundos”, feita por Orson Welles. Destaque também para a presença da atriz Denise Dumont interpretando uma personagem que remete diretamente a cantora Carmen Miranda.

8 — Meia-Noite em Paris — (Mid¬night in Paris, 2011)

Como em “A Rosa Púrpura do Cairo” o nome do protagonista de “Meia-Noite em Paris” é Gil. O filme narra com uma pitada de fantasia e nostalgia o amor que o personagem Gil (Owen Wilson) nutre pela Paris dos anos 1920. Todos os dias o roteirista passeia pelas ruas parisienses e à meia-noite é transportado para as grandes festas com muitos intelectuais e personalidades importantes da Cidade Luz. Para a sua feliz surpresa acaba conhecendo F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Cole Porter e Gertrude Stein que lê o seu livro para fazer críticas e ajudá-lo na escrita. Sua esposa Inez (Rachel McAdams) não gosta muito de seu estilo “antigo” e acaba o traindo. Mesmo assim ele consegue se dar bem e e se envolve com Adriana (Marion Cotillard), musa de Picasso, e Gabrielle (Léa Seydoux), uma moça simples e inteligente. Levou o Oscar de melhor roteiro original. A cena final é muito bonita quando o casal Gil Pender e Gabrielle caminham na chuva pelas ruas de Paris.

9 — Ponto Final — (Match Point, 2005)

Este filme é a mostra de como Woody Allen consegue retrabalhar os seus próprios temas. De certo modo, “Match Point” é uma adaptação de “Crimes e Pecados”, a partir de outro ponto de vista. Sai a discussão filosófica e entra uma reflexão sobre a moral e a sorte. Sucesso de público e crítica, é um drama que conta a história do ambicioso Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers), um professor de tênis, e a bela Nola Rice (Scarlett Johansson), uma jovem que tentava a carreira de atriz. Após uma gravidez não planejada, Chris Wilton vê os seus planos de entrar para a rica família de Chloe (Emily Mortimer) ir por água abaixo. Para isso não acontecer ele é capaz de tudo. Até mesmo passar por cima de seus princípios, deixando a moral para outro plano e, quem sabe, até matar. Com algumas cenas quentes o longa nos possibilita pensar sobre a infidelidade, ambição, crime, vaidade e moral. O melhor momento do filme é na parte inicial quando uma bola de tênis atravessa a rede de um campo repetidas vezes, até que em um determinado momento ela fica suspensa no topo, acompanhando a seguinte fala: “Um homem que disse: ‘Eu prefiro ter a sorte do que ser bom’. As pessoas têm medo de admitir que uma grande parte da vida depende da sorte. É assustador pensar que tantas coisas está fora de nosso controle. Há momentos em um jogo, em que a bola bate na parte superior da rede e por um milésimo de segundo ela pode ir pra frente ou cair pra trás. Com um pouco de sorte ele vai pra frente e você ganha. Ou talvez não vá, e você perde”.

10 — Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo mas Tinha Medo de Perguntar — (Everything You Always Wanted to Know About Sex, 1972)

Um dos filmes mais divertidos de Woody Allen. Representa o humor rasgado que ele fazia no início da carreira. O herdeiro dos Irmãos Marx mostra a sexualidade de forma irreverente e criativa. O filme foi inspirado no livro do médico psiquiatra David Reuben, que havia se tornado grande sucesso de vendas na época. São histórias distintas que ironizam as dúvidas em torno da sexualidade. A cena mais hilária é a de Gene Wilder na cama de um quarto de hotel com uma ovelha. Não é por acaso que os dois tem o “penteado” parecido!