Filme com Adam Driver chega à Netflix, explode no Top 10 e mergulha espectadores em suspense pré-histórico Divulgação / Sony Pictures Releasing

Filme com Adam Driver chega à Netflix, explode no Top 10 e mergulha espectadores em suspense pré-histórico

Um piloto espacial em missão de transporte sofre um acidente, cai em um planeta desconhecido e descobre que está cercado por criaturas gigantescas e predadoras. O que parecia apenas um mundo hostil logo se revela a própria Terra, 65 milhões de anos atrás, às vésperas do impacto de um asteroide. É a partir dessa situação que “65: Ameaça Pré-Histórica” acompanha a tentativa de um adulto e de uma menina de cruzar uma região tomada por dinossauros para alcançar o único módulo capaz de tirá-los dali com vida.

Dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, o filme tem Adam Driver no papel do piloto Mills e Ariana Greenblatt como Koa, a única passageira que sobrevive à queda da nave. Sem ser baseado em livro ou quadrinho, o projeto parte de argumento original dos próprios diretores, que ficaram conhecidos pelo roteiro de “Um Lugar Silencioso”. Aqui, eles deslocam o suspense para um cenário pré-histórico, com foco em poucos diálogos e no confronto direto com o ambiente.

A narrativa apresenta rapidamente o ponto de partida emocional do protagonista. Mills aceita uma longa missão espacial para pagar o tratamento da filha doente, o que o coloca longe de casa por anos. Esse dado inicial tenta dar peso às decisões posteriores do personagem e explica o remorso que o acompanha depois da queda. Quando a nave é atingida por fragmentos de asteroide, todos os passageiros em criogenia morrem, com exceção de Koa. Ela não fala o mesmo idioma que ele, o que cria uma barreira importante ao longo da jornada.

O filme se concentra na travessia dos dois até o módulo de fuga, localizado a vários quilômetros de distância, em uma região dominada por pântanos, florestas densas, cavernas e paredões rochosos. Em paralelo, a aproximação de um asteroide de grandes proporções impõe um limite de tempo. Esse relógio dramático reforça o caráter de corrida contra a extinção e sustenta a tensão de parte das cenas. A cada trecho vencido, a dupla precisa se adaptar a novas formas de perigo animal e geológico.

Beck e Woods escolhem um desenho de ação relativamente simples, com poucas locações e foco em emboscadas, perseguições e ataques surpresa. A encenação privilegia a clareza dos deslocamentos, com planos que situam os personagens em relação aos obstáculos e às criaturas. Em várias sequências, a câmera acompanha Mills e Koa em planos médios que permitem ver o entorno e entender de onde vem o ataque seguinte. Quando a movimentação aumenta, a montagem alterna cortes rápidos com momentos de pausa, o que ajuda o espectador a acompanhar quem corre, quem cai e quem consegue reagir.

Os dinossauros funcionam como ameaça concreta, e o filme se esforça para sugeri-los primeiro por som e sombra antes de expô-los por completo. O desenho de som utiliza estalos de galhos, respirações pesadas, rosnados distantes e vibrações no solo para anunciar o risco. A fotografia alterna cenários diurnos cobertos por neblina e cenas noturnas de contraste alto, nas quais focos de luz recortam apenas partes dos corpos dos animais. Essa combinação produz algumas passagens de suspense eficaz, especialmente em espaços fechados, onde a visibilidade reduzida aumenta a sensação de vulnerabilidade.

Ainda assim, “65: Ameaça Pré-Histórica” não explora todo o potencial dramático de sua premissa. A relação entre Mills e Koa se apoia em arquétipos reconhecíveis — o adulto marcado pela culpa e a criança que precisa ser protegida —, mas o roteiro se limita a esboçar essa dinâmica. A diferença de idioma, que poderia gerar situações de maior complexidade emocional, aparece mais como obstáculo pontual para a ação imediata do que como base de aproximação gradual. Em várias cenas, os gestos resolvem rapidamente equívocos que poderiam aprofundar o vínculo entre os dois.

Adam Driver sustenta boa parte da atenção com presença física e expressões que revelam cansaço, dor e hesitação. Em muitos momentos, ele precisa reagir a elementos digitais invisíveis no set, e a atuação confere credibilidade ao confronto com criaturas gigantes. Ariana Greenblatt compõe uma Koa atenta e resiliente, que observa, imita e reage com rapidez ao comportamento do adulto. O material dramático oferecido às duas figuras, porém, é restrito, concentrado em lembranças breves e em um punhado de diálogos curtos sobre perda e promessa de proteção.

No campo da ficção científica, o filme adota um recorte bastante econômico do futuro. Vê-se apenas o suficiente da tecnologia para justificar a viagem e alguns recursos de navegação e armamento. Não há maior reflexão sobre a sociedade de origem de Mills, a política daquela missão ou a ciência envolvida na travessia. Essa escolha mantém a narrativa enxuta, mas também limita a dimensão das perguntas que poderiam surgir a partir da situação apresentada. O contato entre civilização avançada e Terra primeva fica reduzido ao embate físico com a fauna local.

O roteiro também poderia explorar de forma mais consistente a aproximação do asteroide. A ideia de acompanhar uma história individual nas horas que antecedem um evento de extinção em massa oferece oportunidades para comentários sobre escala do tempo, insignificância ou legado. Em “65: Ameaça Pré-Histórica”, esse elemento funciona principalmente como motor para acelerar a travessia final. O espectador é lembrado periodicamente do risco global, mas o foco permanece na logística de chegar ao ponto de decolagem.

Apesar dessas limitações, o filme mantém uma linha clara de suspense e aventura. Cada trecho de terreno vencido apresenta um novo tipo de risco ambiental, seja lama movediça, seja queda de rochas, seja emboscada de predadores menores. Isso cria uma sensação de progressão física reconhecível, ainda que repetitiva em alguns momentos. Quando a reta final combina a fuga dos dinossauros com a iminência do impacto, a narrativa ganha alguma densidade visual, com chuva de fragmentos e mudança brusca da paisagem.

“65: Ameaça Pré-Histórica” funciona melhor como exercício de sobrevivência em cenário pré-histórico, sustentado pelo trabalho de Adam Driver e por algumas boas soluções de som e imagem na representação dos dinossauros. A falta de maior profundidade na construção dos personagens e do universo de origem reduz o alcance da proposta, mas a jornada até o módulo de fuga sustenta o interesse de quem busca ação clara em meio a criaturas vorazes e tempo escasso.

Filme: 65: Ameaça Pré-Histórica
Diretor: Scott Beck e Bryan Woods
Ano: 2023
Gênero: Ação/Aventura/Ficção Científica/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★