No Prime Video: épico de monstros com Hugh Jackman que a crítica atacou, mas é irresistivelmente divertido Divulgação / Universal Pictures

No Prime Video: épico de monstros com Hugh Jackman que a crítica atacou, mas é irresistivelmente divertido

“Van Helsing: Caçador de Monstros” constrói seu sentido a partir de uma equação simples: reunir criaturas clássicas do imaginário popular e colocá-las em confronto direto com um protagonista moldado para atender a expectativas contemporâneas de heroísmo. A estratégia é evidente: mobilizar referências reconhecíveis para o público, usando-as como pilares de um espetáculo que privilegia o impacto visual e a intensidade constante. O cinema de entretenimento, especialmente o que se ancora em mitologias conhecidas, frequentemente se sustenta nessa lógica. Nesse caso, o resultado revela tanto as possibilidades quanto os limites de tal escolha.

Ao priorizar a sucessão permanente de embates, o filme direciona sua energia para a dinâmica explosiva entre vampiros, lobisomens e engenhocas destinadas ao combate. O personagem-título, interpretado com vigor disciplinado por Hugh Jackman, funciona como mediador desse conflito, não exatamente por sua profundidade psicológica, mas porque a narrativa necessita de alguém que organize minimamente o caos. Ainda assim, “Van Helsing: Caçador de Monstros” não demonstra interesse em desenvolver dilemas internos: os contornos morais são simples, o que elimina tensões existenciais e reduz o arco dramático à funcionalidade.

A presença simultânea de figuras consagradas do terror literário e cinematográfico cria um jogo de expectativas inevitável. Há um simbolismo latente nesses monstros, historicamente associados a angústias humanas, o controle, a degeneração, o desejo, o medo do desconhecido. Contudo, o filme opta por neutralizar essas camadas para reafirmar apenas seu efeito imediato como antagonistas. Essa escolha não é incorreta; porém, ela sacrifica a dimensão mais inquietante dessas criaturas em prol da ação contínua. A consequência é um espetáculo eficiente, mas intelectualmente previsível.

Ainda assim, subjaz à narrativa uma reflexão implícita sobre a busca incessante pela ordem diante do irracional. O protagonista se coloca como instrumento dessa contenção: sua missão não é compreender o mal, e sim eliminá-lo. A lógica binária que rege “Van Helsing: Caçador de Monstros” cumpre o propósito de sustentar um entretenimento ágil, mas não permite explorar a crise ética que um confronto entre humanidade e monstruosidade poderia suscitar. O filme opta por respostas fechadas onde poderiam existir perguntas mais provocativas.

O uso abundante de efeitos computacionais se incorpora como linguagem dominante. Em vez de complementar o ambiente, define-o. Trata-se de um cinema interessado no espetáculo tecnológico como fim em si mesmo. Há competência nessa execução, e é inegável que ele se alinha a um contexto industrial que privilegia a saturação visual como forma de manter a atenção. Ainda assim, essa dependência reforça a sensação de que a narrativa é movida por estímulos externos, não por tensões internas dos personagens.

A estrutura do filme evidencia uma aposta clara: oferecer um entretenimento veloz, acessível e de fácil decodificação. Não é uma proposta menor, nem ilegítima. Porém, quando se lida com figuras tão densas no imaginário cultural, as escolhas dramatúrgicas poderiam ir além do corpo a corpo incessante. O que se assiste é um produto seguro de seu próprio propósito: divertir. E o faz com solidez técnica. Mas as perguntas que poderiam expandir seu alcance, sobre a natureza do mal, a fragilidade humana, a moralidade da caça, permanecem à margem, como se fossem ruídos indesejados.

O interesse de “Van Helsing: Caçador de Monstros” se encontra precisamente nessa tensão: ele entrega o que promete, mas não ousa arriscar o que poderia realmente diferenciá-lo. Uma narrativa que convoca mitos não precisa se contentar em reduzi-los a obstáculos descartáveis. O filme se mantém no terreno confortável da eficácia, recusando-se a explorar a potência simbólica que tem nas mãos. Cabe ao espectador decidir se esse pacto estritamente lúdico basta ou se a ausência de inquietação crítica transforma a experiência em algo menos memorável do que poderia ser.

Filme: Van Helsing: O Caçador de Monstros
Diretor: Stephen Sommers
Ano: 2004
Gênero: Ação/Fantasia/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.