A seleta geração de heróis da MPB tem sofrido baixas nos últimos tempos, artistas geniais que alcançaram popularidade e reconhecimento da crítica especializada a partir dos anos 1960. A recorrente sensação de que “na nossa época a música era melhor” torna-se inevitável sempre que se compara a obra dessa trupe prodigiosa, fisicamente combalida pelas mazelas do tempo, com as novas safras de artistas, muitos deles medíocres, que acabam catapultados ao sucesso, sem merecimento, muito por força das mídias digitais, competentes no execrável exercício de fazer dinheiro ao exaltar o talento de quem não o possui. Com o advento das redes sociais da internet, um bocado de sorte aliada à tremenda cara-de-pau, parecem ser os ingredientes ideais para a lacração de uma gama de “celebridades” sem o devido estofo intelectual e criativo para garantir que a sua obra sobreviva no imaginário das pessoas e, principalmente, nos anais da história da música brasileira.
Perdemos Lô Borges, um dos principais fundadores e mentores do movimento musical Clube da Esquina, em BH, no final dos anos 1960. Muito se tem falado e escrito a respeito Lô Borges, desde o lamentável anúncio da sua morte. Homenagens justas. Demonstrações de saudade. Reconhecimento. E a desagradável certeza de que os nossos ídolos estão sucumbindo ao apetite voraz do tempo que não poupa gênios e medíocres. Já que morreremos todos um dia, melhor ficar na companhia dos gênios. Quem sabe, isso quer dizer amor né, Lô?
Como sempre acontece, todas as vezes que um artista de relevância decola de forma definitiva desse planeta, a Revista Bula se apressa em prestar o merecido tributo, não por oportunismo, como alguns seres desagradáveis poderão acusar, mas sim, por obrigação, pelo compromisso com o estado da arte. Será assim com Salomão Borges Filho, o nosso Lô Borges, responsável pela composição de pérolas da MPB eternizadas não apenas na sua discografia pessoal, mas nas gravações de parceiros de primeira grandeza como Milton Nascimento, Beto Guedes, Elis Regina, dentre outros ícones do cancioneiro nacional.
Como escreveu Nietzsche, a vida, sem a música, seria um erro. Crendo piamente no preceito do filósofo alemão, a fim de homenagear a memória de Lô Borges, a Revista Bula compilou 10 canções fundamentais da sua lavra autoral que denotam o papel relevante desse músico e compositor mineiro, não apenas no histórico Clube da Esquina, mas nas esquinas mundo afora, onde se toca e se ouve música de boa qualidade, aquele tipo de humanidade que não vai desaparecer enquanto houver vida inteligente no planeta. Viva Lô Borges! Viva a boa música popular brasileira!
