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Passou batido? O novo filme de Helen Mirren e Pierce Brosnan na Netflix é um dos mistérios mais divertidos de 2025 Giles Keyte / Netflix

Passou batido? O novo filme de Helen Mirren e Pierce Brosnan na Netflix é um dos mistérios mais divertidos de 2025

A rotina de uma comunidade para idosos se altera quando uma morte próxima transforma um passatempo em missão. Em “O Clube do Crime das Quintas-Feiras”, dirigido por Chris Columbus e estrelado por Helen Mirren, Pierce Brosnan, Ben Kingsley e Celia Imrie, esse deslocamento sustenta o conflito central: investigar um crime recente enquanto pressões empresariais colocam em risco o próprio lugar onde todos vivem. A partir do encontro semanal para discutir casos arquivados, o grupo passa a lidar com pistas de um homicídio que atravessam disputas por terreno, acordos antigos e uma rede de interesses que ultrapassa a vila.

O objetivo imediato é prático, identificar quem se beneficia da morte e por quê. O primeiro obstáculo é de tempo e autoridade, já que a polícia assume a frente oficial do caso e impõe limites ao acesso a provas e testemunhas. Quanto mais os moradores colaboram com detalhes de rotina e relações internas, mais percebem que parte das informações úteis não entra no relatório formal. Essa constatação muda o método do grupo, que decide construir uma linha do tempo paralela com horários, movimentos e telefonemas, sempre testando versões em conversas discretas com funcionários e vizinhos.

O conflito econômico introduz um risco coletivo. A ampliação do empreendimento imobiliário ligado à comunidade define prazo e motivo, pois qualquer mudança de controle sobre o terreno pode expulsar moradores e apagar rastros. A morte de um empresário associado ao projeto não apenas reduz o número de tomadores de decisão, também acende rivalidades antes subterrâneas. Assembléias marcadas às pressas e anúncios de obras criam marcos objetivos, que reordenam suspeitas e oferecem janelas para o grupo colher informações sem chamar atenção. Quando um segundo evento violento atinge o mesmo eixo de negócios, a investigação muda de patamar, porque prova que a disputa por dinheiro não é pano de fundo, é motor dos fatos.

Dentro do clube, funções se definem por experiência. Elizabeth Best administra risco e decide quando avançar ou recuar, Joyce Meadowcroft observa o doméstico e repara nos gestos que denunciam mentira, Ron Ritchie entende a lógica da pressão pública e usa reuniões para testar versões, Ibrahim Arif organiza padrões e separa coincidência de intenção. Essa divisão de tarefas dá ritmo e permite que a história avance em frentes paralelas sem perder ligação causal. Cada visita ao escritório de um gestor, cada conversa com um funcionário de manutenção e cada leitura de agenda de condomínio altera a rota, porque desloca foco e ameaça.

A entrada de uma policial que se aproxima dos moradores cria um canal extra de informação. Quando ela arrisca compartilhar um detalhe de bastidor, acelera o relógio do clube, que reage com um plano para abordar um figurão da região e medir o alcance de sua influência. Essa escolha cobra preço, a investigação oficial perde controle de narrativa e tenta recuperar terreno com prisões preventivas e interrogatórios mais duros. O filme traduz essa disputa alternando reuniões do clube e ações policiais, o que muda o ponto de vista e, portanto, o volume de informação que o espectador recebe a cada sequência.

Um achado no entorno da comunidade amplia o escopo moral do caso. O grupo percebe que a solução do crime atual depende de um acerto de contas antigo, ligado a uma detetive de décadas atrás e a um desaparecimento que nunca encontrou resposta pública. O passado entra como variável concreta, não como ilustração. Passa a haver um segundo objetivo, proteger inocentes que podem ser arrastados por revelações que nada têm a ver com o homicídio recente, e um terceiro, impedir que um investidor use o medo para forçar a venda do terreno. O enredo, então, passa a equilibrar busca por verdade e preservação do lar, duas linhas que nem sempre coincidem.

Quando o clube marca uma conversa com alguém que opera entre negócios legais e atividades criminosas, a narrativa seca o ambiente, evita música de apoio e confia nos silêncios para comunicar custo de cada concessão. O efeito é informativo, pois cada pergunta dita risco e cada resposta abre ou fecha portas. O grupo sai dessa cena com uma trégua precária, suficiente para ganhar tempo e reorganizar a coleta de provas. Nesse intervalo, a proximidade entre Elizabeth e um funcionário de confiança revela um elo decisivo com as mortes, porém a revelação integral é adiada. O filme preserva a resolução, mantendo o foco no que muda imediatamente para o clube, a necessidade de esconder um arquivo sensível e de impedir que um áudio comprometa inocentes.

O ponto máximo concentra risco, prazo e escolha. Durante um encontro social em ambiente doméstico, uma confissão indireta escapa ao controle de quem ouve e ameaça desmontar o plano do grupo. Há três saídas possíveis, levar o conteúdo à polícia e arriscar danos colaterais, usar a informação para negociar a integridade da comunidade ou guardar o material até que outra prova torne sua divulgação inevitável. O enredo evita atalhos, contorna soluções fáceis e mantém a atenção na consequência prática, quem fica protegido, quem fica exposto e quem perde o direito de decidir sobre o próprio destino.

Ao relacionar humor e perigo sem caricatura, o filme preserva o tom de convivência que define a vila. A comparação mais útil para entender a estratégia é “Entre Facas e Segredos”, não pela solução, e sim pela ênfase no efeito de cada escolha sobre objetivos e prazos. A diferença aqui é a dimensão coletiva, já que a continuidade da comunidade pesa tanto quanto a autoria do crime. O fecho não revela a linha final do inquérito, mas aponta para um próximo ato que depende de assembleias, de contratos e de quem controla a caneta.

No elenco, Helen Mirren dá a Elizabeth leitura fria de risco, Pierce Brosnan injeta em Ron a energia de quem joga no ataque, Ben Kingsley compõe Ibrahim com calma e precisão de raciocínio, Celia Imrie faz de Joyce a observadora que destrava trilhas. Essa soma sustenta a tese dramática do filme, quando pessoas comuns decidem agir, a verdade se constrói por dados verificáveis, prazos e coragem. A próxima reunião do condomínio já nasce sob atenção redobrada.

Filme: O Clube do Crime das Quintas-Feiras
Diretor: Chris Columbus
Ano: 2025
Gênero: Comédia/Crime/Mistério/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★