Para quem já se sentiu invisível: esse filme na Netflix é o abraço que faltou Divulgação / Summit Entertainment

Para quem já se sentiu invisível: esse filme na Netflix é o abraço que faltou

A maioria dos adultos gosta de fingir que a adolescência é apenas um intervalo bobo antes da vida começar, como se aqueles anos não fossem um campo de batalha entre o desejo de existir e o medo de ser visto. “As Vantagens de Ser Invisível” desmonta esse mito confortável com a delicadeza de quem sabe que toda dor, quando ignorada, encontra um canto para crescer. Stephen Chbosky entende a violência do que não se conta: há cicatrizes que ninguém nota porque a luz dos corredores da escola é cruel demais para iluminar o que realmente importa.

Charlie (Logan Lerman) é o garoto que escuta antes de falar, que observa antes de ocupar espaço. Para o mundo disciplinado dos extrovertidos, essa reserva parece defeito. É mais fácil rotular de estranho quem carrega um silêncio profundo demais. Só que Chbosky não se contenta com a superfície. Ele insiste que as feridas invisíveis merecem palco, e encontra na amizade o único antídoto possível para a solidão que sufoca. Quando Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller) o acolhem no pequeno clube dos que não cabem em lugar nenhum, o filme afirma: sobrevivemos porque alguém nos enxergou. Aos desajustados, o afeto sempre chega em forma de salvação improvisada.

A escola, com seus rituais de humilhação e hierarquias tão rígidas quanto absurdas, aparece aqui não como cenário, mas como sistema de controle. Cada festa, cada jogo de futebol, cada ranking social funciona para dizer quem merece existir sem pedir desculpas. Quem tem o corpo “certo”, o estilo “certo”, o passado “certo”. E quem não tem nada disso precisa inventar uma persona ou desaparecer. Patrick faz o primeiro movimento, transformando riso em armadura. Sam tenta ser desejável para não ser descartada. Charlie tenta ser útil para não ser esquecido. O filme não os julga: revela o preço que se paga para continuar respirando.

Há uma honestidade devastadora na forma como a narrativa trata o trauma. Não há melodrama, nem truques baratos: apenas a brutalidade de memórias que retornam para exigir reconhecimento. A revelação que recodifica o passado de Charlie não vem como plot twist, mas como um soco que nos obriga a lembrar que muitas crianças aprendem cedo demais a esconder o que lhes roubaram. A cura, aqui, não se encontra em frases motivacionais, mas no direito tardio de nomear o horror e, quem sabe, seguir adiante com menos peso.

Mesmo quando fala de dor, o filme acredita no riso. A esperança pulsa sem ingenuidade: é a alegria teimosa de quem se recusa a aceitar que o destino foi escrito pelos mais fortes. Aquelas noites dirigindo pela cidade com o vento batendo no rosto, sensação quase transcendental, não são bobagens juvenis. São declarações de existência. São a prova de que, uma vez na vida, podemos ser infinitos.

Chbosky oferece algo raro: um filme que leva jovens a sério sem transformá-los em metáforas ambulantes. Ele reconhece a coragem que é acordar todos os dias e tentar novamente. E sugere que talvez o sentido de crescer não seja vencer nada além do próprio medo. Se a sociedade insiste em nos moldar, cabe a nós encontrar quem nos devolve o que ela tentou apagar.

O título fala em vantagens, mas o que realmente fica é a responsabilidade de enxergar quem tenta passar despercebido. Porque nenhum de nós se salva sozinho, e o mundo melhora um pouco cada vez que alguém decide estender a mão para aquele que ainda não descobriu sua própria luz.

Filme: As Vantagens de Ser Invisível
Diretor: Stephen Chbosky
Ano: 2012
Gênero: Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★