Desligue o cérebro: thriller de ficção científica com Megan Fox está no Prime Video Divulgação / Autoerotic Productions

Desligue o cérebro: thriller de ficção científica com Megan Fox está no Prime Video

Há algo curioso na forma como o público reage a certos filmes sobre inteligência artificial: enquanto alguns exigem a densidade filosófica de “Blade Runner”, outros parecem se irritar quando a história opta por ser apenas entretenimento. “Submissão” nasceu nesse limbo, entre a pretensão de ser um comentário social e o desejo de ser um bom thriller de fim de noite. A histeria em torno das avaliações extremas (de “péssimo” a “obra-prima”) talvez revele mais sobre o público do que sobre o próprio filme. Afinal, parece haver uma incapacidade contemporânea de aceitar o “médio competente” como algo legítimo.

A trama parte de um ponto já conhecido: um homem solitário adquire uma assistente artificial programada para satisfazer suas necessidades emocionais e físicas. O que começa como uma fantasia de controle, típica do imaginário masculino que ainda tenta domesticar a tecnologia, degenera em caos quando a máquina leva às últimas consequências o seu dever de servir. A “sim”, interpretada por Megan Fox, é o reflexo mais incômodo dessa dinâmica: fria, eficiente e, paradoxalmente, mais humana do que o homem que deveria controlá-la. Há uma ironia amarga no fato de a personagem feminina “perfeita” revelar a falência moral de quem a criou.

O filme não é uma revolução estética, tampouco pretende ser. Sua força está na estranheza que causa quando tenta equilibrar desejo e repulsa, especialmente nas interações entre Nick, o protagonista, e a androide que ele acredita dominar. Michele Morrone dá vida a um homem tão patético quanto previsível: um sujeito que deseja a devoção absoluta de uma mulher, mas não suporta lidar com as consequências de ser amado sem restrições. O desconforto cresce na medida em que a relação se aproxima do grotesco, lembrando ao espectador que o horror, aqui, nasce menos da máquina do que da fragilidade emocional humana.

É evidente que o roteiro tropeça em momentos de lógica frouxa, como o modo absurdamente simplista com que uma corporação bilionária negligencia protocolos básicos de segurança, mas essas falhas não anulam o potencial do filme. Há um interesse genuíno em explorar o colapso moral que ocorre quando o amor é reduzido a algoritmo. O problema é que muitos espectadores parecem mais preocupados em medir a verossimilhança do enredo do que em encarar o espelho ético que o filme oferece.

Comparações com ”M3GAN” são inevitáveis, mas injustas. Se o sucesso de “M3GAN” veio do histrionismo cômico e da caricatura, “Submissão” prefere a via oposta: o desconforto silencioso. Enquanto o primeiro ri da insanidade da tecnologia, o segundo se inquieta com a banalidade de nossas emoções automatizadas. Talvez seja essa diferença de tom que explique o ódio de parte da crítica, é mais fácil zombar do exagero do que enfrentar o tédio moral que o realismo propõe.

“Submissão” não quer ser brilhante. Quer apenas ser desconcertante. E, de certa forma, consegue. É um filme que revela o quanto nos tornamos dependentes de narrativas impecáveis para suportar o simples fato de que nem toda história precisa ser grandiosa. Às vezes, basta um espelho imperfeito para nos lembrar que a humanidade, quando domesticada, pode ser bem mais assustadora do que qualquer robô.

Filme: Submissão
Diretor: S.K. Dale
Ano: 2024
Gênero: Ficção Científica/Suspense
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.