Quatro amigas que se encontram há décadas para discutir leituras decidem experimentar um best-seller erótico como pauta do mês. A provocação serve de gatilho para movimentos na vida de cada uma: a empresária acostumada a controlar tudo reconsidera o que entende por liberdade, a viúva cautelosa avalia a chance de romance, a juíza divorciada encara os aplicativos com humor e receio, e a parceira dedicada procura reacender a vida conjugal. A comédia “Do Jeito que Elas Querem” acompanha os efeitos dessa escolha no cotidiano, sempre mediada por conversas que misturam franqueza, ironia e afeto.
Com direção de Bill Holderman, o elenco reúne Jane Fonda, Diane Keaton, Candice Bergen e Mary Steenburgen, atrizes que interpretam mulheres em plena maturidade. O filme posiciona esse grupo no centro da ação, com espaço de tela equilibrado e conflitos próprios. A proposta é observar como cada uma negocia desejo, reputação e rotina ao mesmo tempo em que precisa lidar com filhos adultos, memórias persistentes e o olhar alheio sobre como “deve” se comportar uma mulher depois dos sessenta.
Jane Fonda vive Vivian, hoteleira bem-sucedida que trata a independência como escudo e se vê diante de um afeto antigo que insiste em retornar. Diane Keaton interpreta Diane, ainda influenciada por filhas superprotetoras, e encontra num novo pretendente a chance de experimentar afeto sem medo de julgamento. Candice Bergen dá a Sharon um senso de humor direto ao retomar a vida amorosa, conferindo às gafes um brilho que não ridiculariza a personagem. Mary Steenburgen, como Carol, tenta reacender a parceria com o marido enquanto preserva o impulso criativo que a manteve ativa por anos. Essas linhas avançam em paralelo e se cruzam nos encontros do clube, onde conselhos, provocações e cuidados circulam com a naturalidade de vínculos antigos.
Holderman filma com sobriedade e confia no tempo das intérpretes. As cenas valorizam olhares, pausas e pequenos gestos, recursos que dizem muito sobre a dificuldade de admitir vontade e medo. O humor surge de situações reconhecíveis, como a insegurança diante de uma mensagem, a negociação com parentes que se acham no direito de orientar decisões e o embaraço de testar algo novo depois de anos de rotina. A montagem alterna os quatro percursos com clareza, mantendo proximidade com o que move cada escolha.
O ambiente escolhido é de conforto: salas amplas, restaurantes agradáveis, figurinos que favorecem cada atriz e uma fotografia ensolarada que acentua a leveza buscada. Essa opção reduz atritos materiais e desloca os conflitos para a esfera íntima, o que pode soar otimista para parte do público. Ao mesmo tempo, reforça o gesto central do projeto, que é oferecer à maturidade um espaço de prazer e humor pouco frequente no cinema comercial recente, e fazê-lo sem pedir licença a códigos que costumam associar envelhecimento a apagamento.
O roteiro de Holderman e Erin Simms adota diálogos diretos e dá às intérpretes oportunidades de jogo cênico. Bergen rende risos constantes sem transformar Sharon em caricatura. Keaton explora hesitação sem depender de tiques. Fonda mostra fissuras na couraça de Vivian sem abandonar o porte da personagem. Steenburgen injeta energia nas tentativas de revitalizar o casamento. Quando surgem soluções previsíveis, o carisma das quatro mantém a atenção e garante consistência emocional, pois o foco permanece em como cada uma mede o próprio passo.
O best-seller escolhido pelo grupo funciona mais como senha do que como manual. Ele abre uma conversa franca sobre consentimento, fantasia e limites, questões que atravessam gerações. O filme evita moralismo e recusa a ideia de que desejo em idade avançada seja motivo de vergonha. A piada aparece como ponte para diálogo, nunca como desculpa para constrangimento. Nesse movimento, a comédia acha espaço para tratar com naturalidade o direito de começar algo novo sem a obrigação de provar juventude.
O retrato da amizade sustenta o arco dramático. Há afeto, competição amistosa, ciúmes discretos e uma ética de apoio que não depende de concordância. Quando uma recua, outra instiga. Quando uma exagera no conselho, outra impõe limite. Essa circulação de cuidado produz graça por reconhecimento, não por humilhação. O filme também deixa aparecer a solidão, visível em jantares silenciosos e em casas arrumadas demais, sinais de que conforto e rotina não silenciam dúvidas antigas.
A previsibilidade de algumas soluções reduz o risco, mas não anula o interesse. A narrativa prefere pequenas vitórias a grandes viradas e, com isso, aproxima o público de decisões que parecem modestas e, ainda assim, reorganizam a vida. Quem espera conflitos ásperos pode sentir falta de contrastes mais fortes. Quem busca personagens lidando com dilemas cotidianos encontrará material suficiente para acompanhar o crescimento desse grupo, do primeiro impulso à tentativa de sustentar hábitos novos.
Há um dado concreto que ganha relevo: quatro estrelas veteranas ocupam o centro da cena, sem função acessória. Não são avós genéricas, vilãs ressentidas nem coadjuvantes que empurram a trama alheia. Ao colocar essas intérpretes no foco, “Do Jeito que Elas Querem” demonstra que histórias sobre mulheres maduras podem interessar a um público amplo quando recebem orçamento, divulgação e tempo de tela equivalente ao de comédias românticas ancoradas em personagens mais jovens. Esse resultado influencia decisões de contratação e abre caminho para novas produções com recorte semelhante.
A lembrança que fica tende a combinar a franqueza das conversas com a leveza dos encontros. Permanece a curiosidade sobre quais temas ganhariam força caso o grupo escolhesse um livro menos confortável ou se as personagens fossem empurradas para fora do ambiente acolhedor em que circulam, hipótese que deixa aberta a possibilidade de novas reuniões e descobertas.
★★★★★★★★★★