Bem, havia uma época em que os adolescentes eram rebeldes e autênticos, tinham rostos naturais e ouviam músicas de artistas reais. Essa é a época do romance “Amor Louco”, com Chris O’Donnell e Drew Barrymore, lançado em 1995. Agora, os jovens vivem com os rostos enfiados em celulares, imitando todas as celebridades das redes sociais, fazendo procedimentos faciais que uniformizam rostos e ouvindo músicas feitas pela IA. Parece louco, mas o mundo mudou muito nos últimos 30 anos. Mas, se tem algo positivo nisso tudo, é que os transtornos mentais deixaram de ser um tabu.
Em Amor Louco, acompanhamos a história de Matt Leland (O’Donnell), um rapaz de ensino médio que adora observar as estrelas pelo telescópio de seu quarto. Mas o objeto de sua admiração muda com a chegada de uma nova vizinha, interpretada por Barrymore, Casey. Ela é diferente de todas as garotas que ele já viu em Seattle. Casey é intensa, se veste com autenticidade, fala muitos palavrões e é um tanto impulsiva. Ela gosta de perigo, de agitação e de não seguir regras. Matt, que é um bom menino, obediente, e que ajuda o pai a criar sozinho os gêmeos ainda crianças, logo se vê encantado por esse frescor de juventude e rebeldia na cidade.
No entanto, as coisas rapidamente vão do céu ao inferno quando o casal é separado pelos pais de Casey, que decidem que ela precisa se afastar de Matt e ficar internada em uma clínica psiquiátrica. Apaixonado, o rapaz decide raptar sua namorada da clínica e pegar a estrada como dois fugitivos da lei. A partir daí, eles vivem aventuras, perrengues e a empolgação da liberdade e da paixão. Mas o que era para ser uma história de amor impulsivo quase se torna uma tragédia quando Matt descobre que os transtornos psicológicos de Casey são reais e não invenções dos pais opressores da garota.
O road movie de Antonia Bird não teve uma recepção crítica muito calorosa à época do lançamento. O tema da depressão e até do 5u1cídi0 era muito estigmatizado na década de 1990, e abordá-lo em um romance juvenil foi um tanto corajoso e ousado. É sabido que a versão sem cortes do longa-metragem é muito mais obscura e pesada do que a exibida ao público, que provavelmente não estava pronto para uma abordagem tão explícita do tema. Drew Barrymore e Chris O’Donnell interpretam seus papéis de forma encantadora e honesta, compartilhando uma química palpável e performando muito bem em cenas dramáticas que poderiam ter caído no exagero, mas não caíram. A habilidade de deixar todas as camadas de atuação desse filme sutis foi realmente bem-sucedida.
A fuga do casal representa mais do que uma fuga física de duas pessoas em busca de viverem seu amor livremente, mas também uma fuga emocional, uma tentativa de se afastar dos demônios que vivem dentro da mente. No entanto, como diz o diálogo de “Bonequinha de Luxo”: “Não importa o quanto se fuja, jamais poderá fugir de si mesmo”. E é o que acontece com Casey, que acredita que o amor, quem sabe, poderá lhe salvar. Nem sempre o príncipe encantado tem o poder de afastar os dragões e monstros da princesa, principalmente quando é ela quem os abriga em sua cabeça. Casey não pode ser salva pelo mocinho, porque tem que aprender sozinha a salvar a si própria.
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