Se você conhece o trabalho de Robert Rodriguez, sabe que ele é conhecido por filmes que parecem (e são) baratos. Mas não é apenas por causa do orçamento apertado (o que às vezes é verdade). É que essa é realmente a forma dele trabalhar. Rodriguez quer provar que a criatividade, a imaginação e a inteligência criam a verdadeira arte. Não efeitos visuais arrasadores, explosões estereofônicas e elenco estelar. Seu uso de violência escancarada e a paixão pelo cinema independente são uma marca registrada e o que fez ele se tornar amigo íntimo e parceiro, em vários projetos, de Quentin Tarantino.
No fim dos anos 1990, Rodriguez já era um cara conhecido em Hollywood. Já tinha lançado obras épicas, como “Um Drink no Inferno” e “A Balada do Pistoleiro”, mas ainda não tinha pegado projetos mais comerciais, como “Pequenos Espiões” e “Sin City”. Em 1998, ele lançou o suspense de ficção científica adolescente “Prova Final”, estrelado, à época, por jovens atores em ascensão, como Elijah Wood, Josh Hartnett, Jordana Brewster e Clea DuVall. A premissa parece bem bobinha e a execução um tanto B. O enredo trata de uma invasão alienígena em um colégio de ensino médio em Ohio.
O filme se aproveita do sucesso dos slashers dos anos 1990. À época surgiam produções como “Pânico”, “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, dentre outros do gênero, protagonizados principalmente por grupos de adolescentes bonitos e sarados. Aqui não é diferente, mas há algo que torna “Prova Final” um clássico cult B noventista: além de ter revelado duas das maiores estrelas dos anos seguintes, Wood e Hartnett, o filme não é nem um pouco bobo.
Com roteiro de Kevin Williamson, Bruce Kimmel e David Wechter, o longa-metragem se inspira em obras dos anos 1950 para tecer sutilmente uma crítica ao método educacional. Se em “Prova Final” a escola é invadida por alienígenas que se hospedam nos corpos dos professores e alunos, tornando-os robóticos e alienados, a verdadeira mensagem por trás do filme é o processo de desumanização no ensino. Professores desprovidos de emoções que querem criar uma massa de jovens sem personalidade e sem pensamento crítico, apenas obedientes ao sistema.
No centro da narrativa, o filme explora a união de Delilah (Brewster), uma líder de torcida que quer ser vista como inteligente; Stokely (DuVall), a esquisitona excluída; Marybeth (Laura Harris), a novata amigável; Zeke (Hartnett), o traficante inteligente que desperdiça seu potencial; Stan (Shawn Hatosy), o atleta que não quer ser o centro das atenções; e Casey (Wood), o nerd tímido. Eles não começam o filme como amigos. Cada um representa um estereótipo de ensino médio e estão inseridos, cada um, em um determinado grupinho da escola. No entanto, são obrigados a se unir quando percebem a tempo que algo estranho está acontecendo.
Gravado em apenas 40 dias, o longa-metragem se disfarça de terror sci-fi para falar sobre como os jovens são pressionados a serem moldados de forma idêntica, comprimindo suas vontades, sonhos, personalidades e autenticidade. Rodriguez faz isso passar de forma completamente chamativa, sem forçar nenhum intelectualismo chato ou ser panfletário.
Uma curiosidade é que esse filme foi um dos primeiros trabalhos de Hartnett no cinema. Em 1998, ele gravou seus três primeiros papeis: em “Prova Final”, “As Virgens Suicidas” e “Halloween H20: 20 Anos Depois”. Isso significa que ele “deveria” tentar agradar os diretores durante seus testes, já que não tinha um nome consolidado. Mas não foi o que aconteceu em nenhum deles. Tanto em “H20” quanto em “Prova Final”, os produtores queriam dispensá-lo por sua “rebeldia”. É que ele insistiu em fazer o próprio corte de cabelo à época. Para ele fazia sentido, porque combinava com seus personagens cheios de personalidade e em busca da própria autenticidade. Além disso, mesmo recebendo o script, o ator propositalmente não decorou suas falas, improvisando durante os testes e gravações. Ele queria mostrar para Rodriguez que era perfeito para o papel de Zeke, um personagem que se nega a seguir as regras. Balela ou não, Rodriguez adorou. No fim das contas, Hartnett não foi demitido de nenhum dos papéis e ainda se tornou um astro do cinema adolescente dos anos 2000. Colou.
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