É tanto filme que chega todo dia aos streamings, que nem sempre dá tempo de conhecer tudo e saber o que realmente vale a pena. O cinema precisa entregar entretenimento ou narrativa de alto impacto. Às vezes, as duas coisas juntas. Ter o poder de desconstruir certezas e lançar luz sobre dilemas humanos que raramente encontram espaços em produções comerciais é uma raridade. No meio de tudo isso, entre as produções intelectuais e os sucessos comerciais, há um limbo. O limbo das obras que são muito legais, falam de temas que tocam e, também divertem, mas que não são exatamente obras-primas. Nesse terreno ficam algumas produções subestimadas, que muita gente nem se dá ao trabalho de assistir.
A Revista Bula resolveu reunir algumas produções disponíveis no Prime Video que transitam por esse território. Elas perpassam o drama existencial, o suspense psicológico e a ação psicodélica. Nuances das condições humanas, luto, busca da identidade e até da sobrevivência. O gênero aqui não bate. Cada uma é de um diferente. Mas a coragem de desafiar as expectativas e encarar o desconforto é o que os torna tão parecidos. Esses filmes te fazem olhar para além do óbvio e encontrar novos sentidos. Vamos explorar?

Um mercenário acostumado a viver nas sombras aceita uma missão aparentemente simples: eliminar um alvo durante um voo internacional. Contudo, ao embarcar, descobre que não é o único interessado no passageiro, e rapidamente a situação se transforma em uma emboscada mortal a milhares de metros de altitude. Cercado por inimigos infiltrados, ele se vê forçado a reconsiderar sua lealdade: em vez de caçador, torna-se protetor daquele que deveria matar. Entre corredores estreitos, cabines claustrofóbicas e a ameaça constante de morte iminente, cada escolha se torna um risco calculado. O que começa como um trabalho frio se converte em uma luta pela sobrevivência, onde a confiança é escassa e a linha entre inimigo e aliado se desfaz a cada instante.

Elliott, uma jovem livre e sem grandes planos para o futuro, decide experimentar cogumelos alucinógenos em uma viagem aparentemente inofensiva. O que começa como uma experiência psicodélica ganha contornos inesperados quando ela se encontra frente a frente com sua versão de 39 anos, que surge trazendo advertências diretas sobre escolhas e consequências que ainda estão por vir. Entre o choque e a descrença, Elliott precisa encarar a possibilidade de que sua vida, sua família e suas relações amorosas podem seguir caminhos bem diferentes do que ela imagina. A convivência com esse “eu mais velho” a obriga a repensar sua ideia de liberdade, amadurecimento e responsabilidade, revelando que o futuro não é apenas uma linha inevitável, mas algo que pode ser moldado pelas decisões tomadas no presente.

Inspirado em fatos históricos, o filme acompanha um jovem negro enviado a uma instituição de menores após uma acusação injusta. No reformatório, ele se depara com um ambiente de violência sistemática, abusos e degradação, onde a esperança de recomeço é constantemente esmagada. Em meio à brutalidade, surgem laços de amizade e resistência, mas também a consciência de que sobreviver significa enfrentar não apenas os guardas, mas um sistema social inteiro marcado pelo racismo. A obra é uma denúncia das cicatrizes deixadas pela injustiça, ao mesmo tempo em que expõe a luta pela dignidade em condições desumanas.

Um pai divorciado recebe a notícia de que seu filho desapareceu durante uma viagem escolar e, sem respostas concretas, inicia uma busca desesperada. Ao investigar por conta própria, ele descobre contradições, pistas ocultas e segredos que envolvem não apenas a criança, mas também pessoas próximas. Sua jornada se transforma em um mergulho no desespero, expondo a fragilidade dos laços familiares e os limites da razão diante da perda. A tensão crescente mostra como a dor pode transformar amor em obsessão, levando o protagonista a se perder em sua própria angústia enquanto tenta salvar o que resta de sua vida.