O cinema, como a arte em geral, se aproxima bastante da filosofia. Se em livros e tratados, a vida é dissecada em conceitos e teses, na tela ela aparece de forma mais imediata e realista: cheia de contradições, incertezas e momentos inexplicáveis. Isso não quer dizer que o cinema ofereça respostas que você não vai achar nos livros, mas ele é capaz de abrir janelas de reflexão capazes de iluminar nossas próprias existências.
A Revista Bula selecionou títulos, na Netflix, que silenciosamente oferecem lições existenciais mais potentes do que longos textos teóricos. Essas narrativas dissertam sobre juventude e envelhecimento, nossa relação com o tempo, a importância dos afetos e a delicadeza dos vínculos humanos e da importância de reavaliar a própria trajetória. Esses filmes parecem simples na superfície, mas guardam dentro de si grande impacto. Como se pudessem nos ensinar a olhar para dentro de nós com mais coragem e honestidade.
Selecionamos quatro títulos que não apenas contam histórias, mas unem emoção e reflexão sem cair em discursos abstratos demais ou artificiais. Esses filmes nos convidam a pensar sobre quem somos e para onde estamos indo, sem perder de vista a beleza do cotidiano. Um cinema com sensibilidade rara e que pode ensinar tanto quanto a própria filosofia.

Um jornalista cético recebe a tarefa de entrevistar um apresentador infantil conhecido por sua bondade quase inabalável. A princípio, ele encara o trabalho como apenas mais uma pauta, mas a convivência o confronta com feridas profundas de sua vida pessoal. O personagem principal, marcado por mágoas familiares e pela dificuldade em lidar com emoções, se vê forçado a encarar suas fragilidades ao lado de alguém que, com gestos simples, consegue enxergar além das barreiras. O encontro entre ceticismo e compaixão se torna um catalisador de mudanças, mostrando que a vida, por vezes, pede mais do que respostas: exige escuta, empatia e aceitação do que somos.

Um professor aposentado começa a enfrentar os primeiros sinais de Alzheimer. Orgulhoso e racional, ele tenta esconder sua fragilidade, mas sua neta, cheia de ternura e vitalidade, o arrasta para uma aventura que transforma ambos. Juntos, eles decidem ir atrás de um amor do passado, numa jornada que mistura humor, afeto e melancolia. À medida que a memória do protagonista se desfaz, ele é obrigado a reconhecer que a vida não pode ser controlada pela lógica, mas pode ser vivida intensamente no presente. É no vínculo com a família e nos pequenos instantes de afeto que ele encontra a resposta para a inevitabilidade da finitude.

Um astro do rock, já distante dos dias de glória, decide encarar uma nova fase ao receber um presente inesperado de um fã: uma carta escrita por John Lennon décadas atrás. Esse gesto simbólico desencadeia nele uma reflexão sobre escolhas, arrependimentos e a forma como viveu a fama. Acostumado a um estilo de vida marcado pelo excesso e pela superficialidade, ele passa a buscar novas conexões, incluindo um reencontro com o filho de quem havia se afastado. Nesse processo, descobre que a verdadeira grandeza não está nos palcos ou nos aplausos, mas na capacidade de se reconectar com o que é essencial, mesmo quando o tempo parece perdido.

Um casal na casa dos quarenta começa a sentir o peso das escolhas que ficaram pelo caminho. Enquanto os amigos mergulham nas responsabilidades da maternidade e da vida estável, eles tentam se agarrar a uma juventude que parece escapar pelas mãos. O encontro com um casal mais jovem, cheio de energia, ambições e modos de viver diferentes, acende neles tanto fascínio quanto insegurança. Essa convivência revela contrastes entre gerações, questiona os limites da autenticidade e expõe a dificuldade de aceitar o tempo como ele é. No fundo, trata-se de uma busca por sentido, pelo entendimento de que envelhecer não significa perder intensidade, mas aprender a vivê-la de outras formas.