O niilismo é um conceito filosófico que rejeita a existência de um sentido intrínseco na vida. Isso abre espaço para reflexões desconfortáveis sobre a fragilidade das certezas humanas. No cinema, essa perspectiva não se resume a discursos filosóficos diretos, mas em narrativas que exploram o vazio existencial, a finitude e a desimportância das construções e convenções sociais. Eles nos obrigam a encarar a instabilidade das coisas que temos como certeza.
A Revista Bula escolheu cinco obras disponíveis no Prime Video que vão te fazer se deparar com histórias sem finais reconfortantes, mas trajetórias frustrantes, inevitáveis, dolorosas, com destruição simbólica ou literal do mundo como conhecemos. Aqui, tanto a estética quanto o ritmo variam, propondo dramas contemplativos, ficções científicas, mas tudo com um peso existencial que transcende as expectativas do público.
Essa seleção traduz a essência da filosofia niilista para a linguagem cinematográfica. São histórias que não entregam respostas óbvias e nem te iludem com finais felizes. Elas mostram que até mesmo o chão sob nossos pés pode ser uma ideia frágil e prestes a ruim. Prepare o coração e a mente, porque aqui você vai questionar o que vê na tela e também o sentido da sua vida.

Um homem, já na meia-idade, revisita memórias fragmentadas da infância em uma cidadezinha do interior, tentando compreender como as primeiras experiências moldaram sua visão de mundo. Na lembrança, o pai surge como uma figura rígida, marcado por disciplina severa e pela crença de que a vida é uma luta constante, enquanto a mãe encarna a doçura e a espiritualidade, guiando os filhos com leveza e afeto. Entre esses polos, o menino cresce dividido, aprendendo tanto a dureza da sobrevivência quanto a beleza da entrega. Em paralelo, imagens da formação do universo, da origem da vida e da evolução da natureza se entrelaçam ao drama familiar, sugerindo que a história de uma única vida é inseparável da história de tudo. O homem, agora adulto, busca respostas para questões que nunca se calam: existe uma ordem no caos? Há um propósito que guie o acaso ou tudo é apenas uma corrente de eventos aleatórios? Entre memórias pessoais e reflexões cósmicas, ele percebe que o sentido pode estar tanto na grandiosidade do universo quanto nos gestos mais simples.

Durante a luxuosa celebração de um casamento, marcada por sorrisos ensaiados e brinde após brinde, uma noiva visivelmente abatida tenta manter as aparências enquanto luta contra uma depressão profunda. À medida que a festa avança, segredos familiares e ressentimentos velados emergem, revelando um núcleo de relações frágeis. Paralelamente, notícias sobre a aproximação de um planeta desconhecido despertam especulações e medos, que crescem à medida que a órbita da colisão se torna inevitável. Com o passar dos dias, as reações à ameaça variam: há quem se agarre a protocolos e esperanças científicas, e há quem se entregue à resignação. A noiva, antes consumida por uma apatia inexplicável, encontra uma estranha serenidade diante da catástrofe iminente, como se tivesse aceitado desde sempre que nada dura. Quando o planeta finalmente se aproxima, o confronto entre o vazio interior e o vazio cósmico se torna absoluto, dissolvendo qualquer distinção entre destruição física e desintegração emocional.

Um adolescente de temperamento instável sobrevive a um acidente inexplicável e, desde então, começa a ser visitado por uma figura enigmática vestida de coelho, que afirma saber quando o mundo irá acabar. Preso entre a lucidez e o delírio, ele passa a receber instruções que o levam a cometer atos estranhos, aparentemente sem sentido, mas que parecem formar um padrão oculto. Enquanto tenta compreender essas mensagens, investiga eventos bizarros envolvendo vizinhos, professores e colegas de escola, descobrindo que a realidade pode não ser linear e que o tempo, talvez, seja maleável. Cada passo o coloca mais próximo de uma revelação que desafia as leis da física e as fronteiras da sanidade. A sensação constante de que tudo converge para um momento inevitável o faz questionar se é apenas vítima de sua mente ou se está diante de uma missão que o ultrapassa. Ao se aproximar do dia anunciado, percebe que o fim pode ser apenas outra forma de começo.

Quatro pessoas, vivendo em um bairro de poucas oportunidades, alimentam sonhos que parecem ao alcance das mãos, mas que, pouco a pouco, se transformam em armadilhas. Uma mulher solitária acredita que a fama em um programa de televisão pode devolver-lhe juventude e relevância; o filho e a namorada planejam abrir um negócio próprio para escapar da monotonia; o melhor amigo compartilha da mesma ilusão de prosperidade. Para alcançarem seus objetivos, todos se apoiam em atalhos perigosos, mergulhando no uso de substâncias que prometem energia, confiança e euforia. Com o tempo, esses hábitos corroem não apenas a saúde física, mas também as relações, as esperanças e a dignidade. O que começa como busca por realização se transforma em espiral de degradação, marcada por promessas que se desfazem como fumaça. Estação após estação, a realidade se torna mais sombria, até que tudo o que resta é o silêncio frio de sonhos que não resistiram ao peso da verdade.

Um jovem programador e hacker vive insatisfeito com a rotina e inquieto com a sensação de que algo em sua realidade não faz sentido. Essa desconfiança se confirma quando ele é contatado por um grupo que lhe revela uma verdade chocante: o mundo que vê e toca é uma simulação criada por máquinas inteligentes para manter a humanidade aprisionada, enquanto seus corpos reais são usados como fonte de energia. Ao despertar para o “mundo real”, ele enfrenta a dureza de um ambiente devastado e a responsabilidade de lutar contra um sistema que manipula percepções e controla escolhas. Entre treinamentos, perseguições e batalhas impossíveis, descobre que sua importância vai além da rebeldia — ele pode ser a chave para libertar todos, mas isso exigirá confrontar não apenas inimigos externos, mas também a dúvida sobre até onde a liberdade é suportável. No fim, percebe que romper a ilusão é apenas o primeiro passo para enfrentar a incerteza do que significa viver sem ela.