Os 7 livros que Gabriel García Márquez leu antes de inventar um mundo

Os 7 livros que Gabriel García Márquez leu antes de inventar um mundo

Não há como apontar o exato momento em que Gabriel García Márquez virou ele mesmo, ou pelo menos o escritor que o mundo reconhece pelo sobrenome. Talvez tenha sido no Caribe colombiano, ainda menino, ouvindo histórias contadas baixinho pela avó. Talvez tenha sido quando leu Kafka pela primeira vez, numa biblioteca de Bogotá, e pensou: isso também é permitido? Mas, como quase tudo que envolve Gabo, a resposta nunca está numa cena única. Está num acúmulo, de vozes, de silêncios, de frases que demoraram anos para se completar.

O que se pode dizer com alguma segurança é que houve livros. Livros que chegaram antes da glória, antes dos prêmios, antes mesmo de Macondo. Livros que não lhe serviram apenas como inspiração, mas como susto, como chão movediço. Ele os leu como quem não queria escrever ainda, mas talvez precisasse. Leu como quem escuta alguém mais velho falar de coisas que ainda não entende, mas já reconhece.

Eram livros de autores distantes, de tempos outros, com atmosferas que ele próprio admitia não conseguir decifrar inteiramente. Ainda assim, estavam ali, como faróis acesos em neblina. Kafka o ensinou que o absurdo pode ser narrado com naturalidade. Rulfo lhe mostrou que o morto pode ser personagem e narrador ao mesmo tempo. Faulkner comprovou que uma aldeia basta. Hemingway cortou seus adjetivos. Cervantes lembrou que a loucura pode ser só uma forma mais pura de crença. Homero ofereceu a espiral. Joyce bagunçou tudo, e por isso mesmo ficou.

Não é que esses sete livros tenham lhe dado respostas. Mas deram linguagem, deram forma, deram permissão. García Márquez, como todo grande escritor, não foi apenas um criador: foi, primeiro, um leitor abalado. A literatura que ele nos entregou depois, em suas próprias palavras, não foi inventada. Foi lembrada. E o que ele lembrou nasceu primeiro nessas páginas.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.