Filme com Dwayne Johnson, que estreou esta semana na Netflix, já lidera no Brasil — e alimenta o vício nacional por ação sem pausa Divulgação / New Line Cinema

Filme com Dwayne Johnson, que estreou esta semana na Netflix, já lidera no Brasil — e alimenta o vício nacional por ação sem pausa

Talvez Dwayne “The Rock” Johnson seja na indústria cultural de nossos dias quem melhor transite de um lado para o outro, da comédia para as sequências de ação e delas para arcos dramáticos entre o morno e o quente, fervendo — ajudado, por óbvio, pela aparência tão específica. Brad Peyton vale-se da imagem bonachona de Johnson para oferecer ao público uma daquelas histórias saborosamente absurdas, cheias de reviravoltas, com vilões e mocinhos muito bem-definidos (ou quase), até que o herói máximo do enredo trata de mostrar a que veio. Em “Rampage: Destruição Total”, o brutamontes mais querido de Hollywood enfrenta de igual para igual criaturas monstruosas de dez, vinte metros de altura, dentes pontiagudos e escamas repulsivas, numa tentativa desesperada de, adivinhe, salvar o gênero humano. Mas para a tarefa ele pode contar com um reforço de peso.

Davis Okoye, o personagem de Johnson, é o responsável pelas feras selvagens em extinção do zoológico de San Diego, Califórnia, e como tal já tornou-se ele mesmo meio bicho. Davis fica mais à vontade com os animais que com os indivíduos de sua espécie, e há algum tempo vem se acostumando com um celibato um tanto doentio. Nas primeiras sequências, ele mostra as dependências dos gorilas a uma turma de aspirantes a cientistas recém-graduados, e experimenta prazeres sádicos como ver um deles morrer de medo de um imenso macaco albino. George, o primata em questão, desperta o interesse de uma companhia suspeita que desenvolve um patógeno com o poder de hipertrofiar os organismos com os quais entra em contato, e é isso o que se dá com George. Desse ponto em diante, o roteiro de Carlton Cuse, Ryan Engle e Ryan J. Condal, sofisticando um pouco o mote do videogame homônimo da década de 1980, divide-se entre as constantes metamorfoses do gorila e a caça a um lobo que já chegou à proporções descomunais e assombra um bosque, até exterminar toda a equipe que deveria capturá-lo, liderada por Burke, de um apagado Joe Manganiello.

A substância dramática do filme está na fuga de George, que se junta ao lobo e a algo que se assemelha a um crocodilo, os três anabolizados o bastante para cruzar os Estados Unidos e alcançar Chicago. Peyton brinca com essa expectativa do público quanto a George tornar-se o vilão da história, ao passo que aposta suas fichas na perseverança heroica de Davis, a essa altura socorrido por Kate Caldwell, a pesquisadora de um órgão estratégico do governo federal. Johnson e Naomie Harris fazem um carismático anticasal, muito inclinados em superar suas diferenças e obter sucesso na missão de postergar o apocalipse por mais alguns dias — e loucos para engatar um romance também, se possível. “Rampage: Destruição Total” martela a velha máxima do homem como o algoz do homem, movido pela ganância disfarçada de progresso científico, sem o refinamento intelectual de Steven Spielberg em “Jurassic Park — Parque dos Dinossauros” (1993), mas divertido de todo jeito.

Filme: Rampage — Destruição Total
Diretor: Brad Peyton
Ano: 2018
Gênero: Ação/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.