6 livros que Nietzsche odiava (e por quê)

6 livros que Nietzsche odiava (e por quê)

Nietzsche não odiava livros da mesma forma que se odeia um gosto ruim ou uma ideia tola. O que ele detestava, com um fervor quase clínico, eram estruturas inteiras de pensamento que, segundo ele, drenavam a força da vida. À primeira vista, isso pode parecer exagero — um filósofo ensandecido por sua própria retórica. Mas é mais incômodo do que isso. Para Nietzsche, certas obras não apenas erravam; elas adoeciam. Criavam o tipo de espírito que dizia sim ao sofrimento e não à potência. O tipo de leitura que conforta, organiza, moraliza — e, justamente por isso, mata. É nessa chave que sua repulsa por Kant, Rousseau, Darwin, Stendhal, Victor Hugo e George Eliot ganha contornos mais densos. Nenhum deles era desprezível. Pelo contrário: eram gigantes. E foi por isso que ele os considerou tão perigosos. Cada um, à sua maneira, representava uma tentativa bem-sucedida de enobrecer aquilo que Nietzsche queria ver destruído: a culpa moral, o ressentimento refinado, a compaixão tornada virtude, a submissão travestida de razão.

Ele não escrevia contra livros, mas contra o que esses livros cristalizavam — e, no limite, santificavam. Kant, com sua razão fria e universal, era a negação do trágico. Rousseau, com sua pedagogia sentimental, parecia ensinar que o instinto era um erro curável. Darwin oferecia à humanidade uma desculpa científica para se acomodar na adaptação. Hugo, para Nietzsche, canonizava o sofrimento como redenção. Eliot, com sua lucidez triste, parecia compor uma moral de gente cansada, ética demais para viver. E Stendhal, ainda que admirado, oferecia o retrato de um tipo de alma ressentida demais para criar algo novo. Nada disso se resume a rótulos. O incômodo de Nietzsche era mais sutil: ele percebia, nas entrelinhas desses autores, a arte de tornar a fraqueza desejável. Não há como ler suas críticas sem ouvir o eco de um desconforto profundo, quase pessoal. O que está em jogo ali não é só filosofia — é uma disputa por qual tipo de ser humano se deve cultivar.