Caindo das nuvens

Caindo das nuvens

Se você escreveu um bilhete num guardanapo com uma esferográfica vagabunda no século passado e guardou numa gaveta, pode pegar e ler o que escreveu sem problemas. Se você digitou a mesma coisa no editor de textos mais foda que havia na época, e arquivou, provavelmente em um disquete, quero ver conseguir ler. Se o disquete ainda funcionar, você vai precisar se equipar de um nerd fuçador de bits pra conseguir ler o tal arquivo.

Hoje em dia, as informações das pessoas não estão mais em cadernos, nem em disquetes, nem mesmo em guardanapos velhos — elas estão nos computadores. Mas e se o computador quebrar? Todo mundo sabe que tem que sempre fazer backup de tudo, mas um dos gritos mais escutados mundo afora é:

— Puta que pariu! Esqueci de fazer backup! Perdi a porra do arquivo!

Depois de passar pela experiência traumática de perder um arquivo e de ter berrado a frase acima, acordando toda a vizinhança, a pessoa acaba criando uma rotina de fazer backups. Até um tempo atrás, essas cópias eram feitas em discos, disquetes, pendrives ou vários outros artefatos físicos, mas hoje em dia tudo está guardado em um lugar que chamam de nuvem. Não sabemos onde ficam essas tais nuvens, mas nos garantiram que os nossos arquivos estão seguros por lá. Quem garante? Os donos das nuvens. Quem são esses caras? Ora, é aquela galera das Big Techs que é dona da porra toda! Tem que confiar neles, caramba! Os caras têm bilhões de dólares. Se eles são capazes de tomar conta dos bilhões deles, não vão conseguir cuidar de uma porra de um arquivinho seu?

Às vezes eu fico pensando nessa nuvem onde estão todos os meus dados. Eu sei que os meus dados não estão no céu. Mesmo assim, quando eu olho para cima e vejo uma cumulus nimbus daquelas bem cinzas, eu me pergunto se não é lá mesmo que estão todos os meus textos, minhas fotos, minhas músicas. Por isso, sempre que saio de casa e está chovendo, eu tomo o cuidado de pular todas as poças d’água — vai que eu piso numa poça e amasso uma das minhas fotos que estava na nuvem e caiu!

Tá certo, eu já me convenci de que os meus arquivos estão a salvo nas nuvens, já entendi que quando chove eles não caem, mas ainda existe um problema. E se eu esquecer a senha de acesso a essa nuvem? Tudo bem, eu sei que é possível recuperar a senha. Mas e se eu não conseguir? É por isso que, para me prevenir, eu escrevo todas as minhas senhas em guardanapos usando esferográficas e jogo tudo dentro de uma gaveta na minha escrivaninha!