5 livros clássicos que dão sono, mas ninguém tem coragem de falar

5 livros clássicos que dão sono, mas ninguém tem coragem de falar

 A literatura canônica é, para muitos leitores, um território sagrado. Repleto de obras que moldaram o pensamento ocidental, definiram estilos e influenciaram gerações, esse universo é respeitado — às vezes até com certo temor. No entanto, é inegável que nem todos os clássicos são acessíveis, envolventes ou prazerosos à primeira leitura. Para alguns, eles são sinônimo de admiração; para outros, de bocejos intermináveis. Mas o que faz com que certos livros clássicos deem sono? Seriam seus estilos datados, as tramas lentas ou as descrições intermináveis? Muitos clássicos foram escritos em períodos em que a literatura seguia convenções diferentes das atuais. Frases longas, vocabulário rebuscado e construções sintáticas complexas sem dúvida podem dificultar a absorção do que vai ali escrito.

É justo perguntar: um livro precisa ser “interessante” ou “empolgante” para ser bom? A resposta pode ser mais filosófica do que parece. Há livros que cativam pelo enredo, outros pelo estilo, e alguns apenas pelo desafio intelectual que representam. A sonolência que alguns causam pode ser fruto não de um defeito, mas de uma diferença de expectativa. Um leitor que busca uma história dinâmica e clara talvez se frustre com os desvios de Ulisses, mas esse mesmo livro pode fascinar alguém que procura explorar os limites da linguagem. Livros clássicos que dão sono não são necessariamente ruins — pelo contrário. Muitos deles são marcos na história da literatura, responsáveis por transformações profundas na forma de narrar, pensar e sentir. No entanto, é saudável reconhecer que a leitura desses textos nem sempre é prazerosa ou acessível. Perder-se nos monólogos de ”Os Irmãos Karamázov” (1880), de Dostoiévski, não é sinal de cognição deficiente ou fracasso moral, mas talvez um convite para ler em outro momento, com outra disposição. Afinal, a literatura é também uma jornada pessoal — e algumas estradas são mais sinuosas do que outras.

Nessa lista, apontamos as contradições de alguns dos grandes títulos da literatura universal, indo da primeira metade do século 19, caso de “O Vermelho e o Negro” (1830), de Stendhal (1783-1842), ao muitíssimo controverso “O Apanhador no Campo de Centeio” (1951), de J.D. Salinger (1919-2010), motivo da tal vergonha alheia por parte de um gênio indomável como Elizabeth Bishop (1911-1979). Frise-se que a experiência é absolutamente pessoal, e que sempre há em cada um desses cinco títulos lances memoráveis, cuja relevância fundamental é também empurrar o público para outros livros, a fim de que compare, analise e proponha-se a buscar o que pode haver de melhor. É sempre há muito o que se descobrir entre páginas e notas de rodapé.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.