7 livros cuja escrita é tão bela que dói — e vicia

7 livros cuja escrita é tão bela que dói — e vicia

Alguns livros não são lidos — são sentidos com o corpo inteiro. Não se trata apenas de acompanhar personagens ou mergulhar em enredos bem construídos. Trata-se de algo mais íntimo, mais antigo, como se uma parte esquecida de nós reconhecesse, entre as palavras, um eco daquilo que nunca soube dizer. A beleza, nesses casos, não é ornamental — é ferida. Há frases que brilham por um instante e depois ardem por dias, como cacos de espelho grudados na carne da memória. O curioso é que não queremos nos livrar delas. Pelo contrário: voltamos. Relemos. Grifamos. Sussurramos sozinhos num quarto em silêncio. Porque há um vício em encontrar uma linguagem que nos alcance num ponto que nem sabíamos que existia. E não é sempre prazeroso. Às vezes, a escrita mais bela é também a mais impiedosa. Nos desmonta com delicadeza, nos empurra para um canto onde ficamos pequenos diante de uma frase que nomeia exatamente aquilo que tentamos evitar. Há uma coragem nisso — na entrega de quem escreve sem armadura, e na entrega de quem lê sabendo que vai sair machucado. Mas é um ferimento necessário, quase sagrado. A boa literatura não afaga: expõe. Não oferece consolo fácil, mas um tipo de lucidez que — mesmo doendo — purifica. E a verdade é que, depois de sentir esse impacto, tudo o que soa apenas bonito parece desinteressante. A linguagem que não sangra, que não arrisca, que não desequilibra, logo se torna esquecível. Talvez seja essa a linha tênue entre o belo e o insuportável: o que nos atravessa não passa. E aquilo que não passa, de algum modo, nos transforma. É estranho pensar que alguém, em algum lugar, tenha escrito algo que parece ter sido tirado de dentro de nós. Mas é justamente aí que mora a maravilha — e o vício. Porque, quando se descobre essa intensidade, nunca mais se consegue voltar à superfície.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.