7 clássicos brasileiros que todo mundo diz que ama — mas nunca chegou nem à metade (e ninguém tem coragem de admitir)

7 clássicos brasileiros que todo mundo diz que ama — mas nunca chegou nem à metade (e ninguém tem coragem de admitir)

Há livros que a gente aprende a respeitar antes mesmo de saber ler. Títulos que pairam nas estantes como troféus familiares, heranças que ninguém pediu, mas que todo mundo ostenta com uma espécie de devoção silenciosa. Eles estão ali — sólidos, imponentes, muitas vezes intocados — como se bastasse a sua presença para nos tornar leitores melhores, mais profundos, mais civilizados. Só que não basta. Porque há uma diferença brutal entre admirar um livro e atravessá-lo. Entre citar um nome com reverência e encarar de verdade suas vírgulas, seus desvios, seus desertos narrativos. E é nesse abismo, entre o prestígio e o abandono, que repousam alguns dos clássicos mais célebres da literatura brasileira.

Não se trata de desdém — longe disso. São obras densas, legítimas, gigantes, que exigem mais do que tempo: pedem entrega. E isso, bem… nem sempre se tem. Ou se quer. Porque há livros que intimidam. Não pela complexidade do enredo, mas pela espessura simbólica que carregam. São marcos, estandartes culturais, e tocá-los sem a devida reverência parece quase um sacrilégio. Talvez por isso tantos comecem e tão poucos terminem. A leitura emperra, desliza, volta à estaca zero. O marcador de páginas vira refém da página cinquenta e seis — e assim permanece por meses, anos, às vezes décadas.

Mas ninguém admite. Há um pacto tácito em torno desses livros: o de nunca revelar o abandono. Afinal, quem ousaria confessar que não passou do terceiro capítulo de uma obra tida como fundamental? Que dormiu no meio de um parágrafo célebre? Que sublinhou frases sem entendê-las — só para não perder o ar de quem entendeu? Há um certo orgulho em não terminar, disfarçado de reverência. Como se o não-ler fosse, paradoxalmente, uma forma extrema de respeito.

E talvez seja. Ou talvez só revele o quanto fingimos — para os outros e para nós mesmos — que a admiração basta, quando o que falta mesmo é coragem para dizer: tentei, mas não deu. E tudo bem. Ou quase. Porque alguns desses livros merecem ser relidos antes mesmo de serem terminados. Ou ao menos merecem ser lembrados com mais honestidade do que pose.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.