Imagine um épico que mistura a grandiosidade de “Game of Thrones”, a intensidade sombria de “Batman Begins” e a mítica gótica de “Drácula” de Bram Stoker. É essa a ambição de Gary Shore ao dirigir “Drácula: A História Nunca Contada”, um filme que revisita a lenda do icônico vampiro sob uma perspectiva audaciosa e visualmente arrebatadora. Em vez de se limitar aos clichês tradicionais, a produção busca humanizar Vlad, explorando sua transformação de um guerreiro nobre em uma criatura sombria e temida.
O enredo se concentra em Vlad Dracula, interpretado por Luke Evans, um conde da Transilvânia que teve sua juventude marcada pelo sequestro turco, onde aprendeu a arte da guerra ao lado de Mehmed, futuro monarca otomano. Essa relação complexa de amizade e rivalidade ecoa na vida adulta, especialmente quando Mehmed, agora poderoso sultão, exige que Vlad entregue mil jovens de seu povo, incluindo seu próprio filho, Ingeras. Recusando-se a sacrificar sua linhagem e sua honra, Vlad toma uma decisão desesperada: selar um pacto sombrio para obter o poder necessário para enfrentar o império.
Essa escolha radical o leva a um encontro com uma criatura ancestral que oferece um poder devastador em troca de sua humanidade. Vlad aceita o destino sombrio e se torna um vampiro, capaz de feitos extraordinários, mas condenado a lutar contra seu próprio desejo por sangue. O filme desenvolve essa tensão de maneira visceral, intercalando cenas de batalha grandiosas com momentos introspectivos que revelam o dilema do protagonista: proteger sua família e seu povo sem perder o que ainda resta de sua alma.
A construção visual contribui para a atmosfera envolvente. As paisagens sombrias da Irlanda do Norte, como o Tollymore Forest Park e o castelo Ballygally, fornecem um cenário que amplifica o tom gótico da narrativa. O empenho de Luke Evans em treinar rigorosamente para as cenas de combate confere realismo às sequências de ação, enquanto Sarah Gadon, como Mirena, imprime uma vulnerabilidade comovente que contrasta com a ferocidade de Vlad.
Embora não tenha alcançado o status de obra-prima cult como “Drácula de Bram Stoker”, de Coppola, a abordagem de Shore consegue criar um híbrido interessante entre o épico medieval e o horror sobrenatural. A produção, que ultrapassou um bilhão de reais em arrecadação mundial, destaca-se por oferecer uma releitura intrigante do mito vampírico, equilibrando elementos de ação e drama com uma estética que mescla brutalidade e melancolia.
Disponível na Netflix, “Drácula: A História Nunca Contada” se posiciona como uma experiência cinematográfica visualmente imersiva, que instiga o espectador a refletir sobre os limites entre heroísmo e monstrosidade. A decisão de Vlad de sacrificar sua humanidade para salvar seu povo ecoa como uma tragédia épica, consolidando o filme como uma versão contemporânea e ambiciosa do eterno mito de Drácula.
★★★★★★★★★★