Os 10 livros mais vendidos no Brasil em 2025 (até agora) — quando ler muito não significa ler bem

Os 10 livros mais vendidos no Brasil em 2025 (até agora) — quando ler muito não significa ler bem

À primeira vista, os números impressionam. Milhões de exemplares vendidos, filas de leitores em bienais, capas reluzentes nos aeroportos e nas redes sociais. Mas quando se examina, com alguma serenidade crítica, a lista dos 10 livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2025 — resultado do cruzamento de quatro fontes respeitáveis (Veja, PublishNews, Leitura e Amazon Brasil) —, o entusiasmo inicial dá lugar a uma sensação incômoda. Algo não fecha. O que exatamente estamos lendo em massa? E por quê?

É difícil ignorar a homogeneidade estética da seleção. O que deveria ser uma amostra diversa da produção literária contemporânea revela-se, em essência, um espelho monocromático daquilo que se tornou o novo padrão de consumo: narrativas com ritmo de série da Netflix, psicologismos fáceis e estruturas repetitivas de trauma e redenção. Vende-se o que é familiar, digerível, ligeiramente perturbador — mas nunca desestabilizador de verdade.

Colleen Hoover aparece duas vezes, como se a dor feminina pudesse ser reduzida a um algoritmo emocional. Freida McFadden repete a fórmula do suspense claustrofóbico com eficiência quase clínica. Rebecca Yarros, com seus dragões e heroínas em crise de identidade, oferece um escapismo bem embalado. Nenhum desses livros é exatamente ruim — e talvez esse seja o problema. São bons o suficiente para prender atenção, gerar identificação rápida, e desaparecer da memória uma semana depois. São literatura de consumo imediato, como café solúvel: quente, funcional e inteiramente substituível.

Mas onde estão os riscos? Onde estão os livros que desafiam o leitor — que obrigam a desacelerar, a reler uma frase, a duvidar do próprio julgamento? Onde está o romance brasileiro que escava a linguagem até doer? Onde está a experiência literária que não cabe em resenhas de TikTok?

Mesmo “Tudo é Rio”, talvez o título mais literário da lista, é, paradoxalmente, consumido muitas vezes como mais um drama romântico de superação, embalado em frases de efeito e lágrimas programadas. A estrutura narrativa é mais complexa, sim — mas já entrou no circuito das leituras que emocionam sem necessariamente confrontar.

O fenômeno é maior do que os autores. O problema não está, exclusivamente, nos livros — está no que esperamos deles. O mercado condicionou o leitor à recompensa rápida, à empatia instantânea, à gratificação narrativa que não exige mediação crítica. A ficção virou terapia improvisada, jogo de espelhos emocionais ou fantasia de controle. Nada contra o consolo. Mas e a literatura? A que ainda sangra, a que desafina, a que não busca agradar — onde está?

É desconfortável dizer isso, mas talvez estejamos assistindo, ano após ano, à canonização silenciosa da mediocridade encantadora. E o mais grave: ela não escandaliza. Apenas entretém.

Sim. Às vezes, é só isso. E isso — eu temo — talvez não seja suficiente.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.